O tempo verbal e o aspeto são duas realidades distintas que implicam planos de análise independentes, mas que não se excluem. Como afirma Fátima Oliveira, «o domínio do tempo propriamente dito trata do perfil temporal “externo” das orações e é uma categoria relacional (ou seja, situa-as numa linha temporal cuja âncora é o tempo de referência), o domínio do aspeto trata do seu perfil temporal “interno”. Assim a frase a Maria leu o livro expressa, do ponto de vista do tempo semântico, uma situação passada em relação ao tempo da enunciação e, do ponto de vista aspetual, uma situação única, dinâmica, com um fim intrínseco.» (Raposo et al., Gramática do Português. vol. I, Fundação Calouste Gulbenkian, p. 505)
Assim, no caso das expressões em apreço, se considerarmos o plano do tempo verbal, estar a + infinitivo
(i) com o verbo auxiliar no presente do indicativo corresponde a uma construção perifrástica progressiva (designada em algumas gramáticas como presente progressivo1);
(ii) com o verbo auxiliar no pretérito imperfeito do indicativo corresponde a uma construção que recebe a designação de imperfeito progressivo1.
Do ponto de vista aspetual, o auxiliar estar (a) tem como função apresentar a situação expressa pelo verbo numa fase intermédia do seu desenvolvimento, incidindo no seu decurso, ao contrário de outros auxiliares que focalizam a ação no seu início (por exemplo, começar (a)) ou no momento de culminação (por exemplo, acabar (de)).
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1. Cf. Raposo et al., Gramática do Português. vol. I, Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 514-517 e 518-524.