A palavra em questão pode efetivamente ser atestada, com o significado indicado pelo consulente, no português de Portugal, como termo especializado em textos da área das chamadas ciências exatas e experimentais. Exemplo (sublinhado nosso):
(1) «Computacionalmente os métodos divisivos são geralmente exigentes. No caso particular das variáveis serem binárias, os métodos divisivos, conhecidos por métodos monotéticos, são computacionalmente mais eficientes.» (António da Costa Fernandes, Análise de conglomerados: comparação de técnicas e uma aplicação a dados de fluxo migratório em Portugal, tese de mestrado, Universidade de Aveiro/Departamento de Matemática, 2017, p. 34)
Noutras áreas de estudo, sem parecer um termo especializado, surge como neologismo usado como sinónimo de monolítico, rígido, inflexível, palavras que se apresentam em alternativa. Exemplo (sublinhado nosso; manteve-se a ortografia do original citado):
(2) «Assim, assumimos que a nossa postura é informada pela perspectiva feminista crítica defendida por Nogueira, Saavedra e Neves (2006) –pautada por um olhar contextualizado, que se afasta de generalizações abusivas, homogeneizadoras e monotéticas que constituem a perpetuação de assimetrias sociais –informada pela teoria crítica, construccionismo social e análise de discurso.» (Sara Isabel Almeida Magalhães, Como ser uma Ragazza – Discursos de sexualidade numa revista para raparigas adolescentes, tese de doutoramento, Universidade do Minho/Escola de Psicologia, 2011, p. 98)
Observe-se que não é seguro tomar monotético como palavra proveniente do Brasil. Uma consulta na Internet faculta certamente muitos resultados em páginas brasileiras, mais tal frequência talvez se deva apenas à existência de um número enorme de utentes brasileiros, sem daí se concluir um impacto direto no uso linguístico em Portugal.
Mais plausivelmente, parece tratar-se de empréstimo anglo-saxónico feito tanto por brasileiros como por portugueses, dada a importância do inglês na escrita académica e científica, e a significativa presença de estudantes e especialistas das duas nacionalidades em meios anglófonos. Sendo assim, monotético será a adaptação do inglês monothetic, composto por elementos eruditos de origem grega, mono- e -thetic. Estes, por sua vez, encontram paralelo nos elementos eruditos da mesma origem transpostos na morfologia da língua portuguesa: mono- «um só, uma única coisa» + -tético «próprio e adequado a ser posto ou colocado em (como formador de adjetivos derivados de -tese «ação de pôr, colocar».
Em suma, é difícil condenar o uso de monotético. Para os mais conservadores, os sinónimos em alternativa poderão ser opções mais seguras quanto à sua tradição na língua.