Tanto o ponto de interrogação como o de exclamação são considerados sinais de pontuação que indicam, ao mesmo tempo, a melodia e a pausa. Um e outro são usados, respetivamente, no fim de qualquer interrogação direta e de enunciados de entoação exclamativa, o que pressupõe o término de um discurso. Aliás, já Rodrigo de Sá Nogueira, na sua Guia Alfabética da Pontuação (Lisboa, Clássica Editora, 1973, p. 65) nos indica que «o ponto de exclamação ou de admiração, que graficamente é simbolizado pelo sinal !, e o ponto de interrogação, que graficamente é simbolizado pelo sinal ?, têm na essência o mesmo valor do ponto final, apenas com a particularidade de imprimirem à frase a entoação da exclamação, da admiração, do espanto, da surpresa e a entoação específica de interrogação, de pergunta, de inquirição, respetivamente».
Se partirmos, portanto, do princípio de que a frase que se segue inicia um novo discurso, não há dúvida de que se deve «empregar a letra inicial maiúscula no começo desse discurso» (Rocha Lima, Gramática Normativa da Língua Portuguesa, 1967), o que se verifica nos exemplos retirados da Nova Gramática do Português Contemporâneo (Lisboa, Sá da Costa, 2002), de Cunha e Cintra:
«— Se sai? Já saiu! Não viu os jornais?» (Erico Verissimo, O Tempo e o Vento, 253)
«Estará surdo? Estará a tentar irritar-me? (Sttau Monteiro, Angústia para o Jantar, 101)
«— Ah, é a senhora?! Pois entre, a casa é sua...» (Aníbal M. Machado, Histórias Reunidas, 86)
«— Não vás! Volta, meu filho!» (Erico Verissimo, O Tempo e o Vento, 604)
«Ah! Pérfido! Se os teus não lhes respondem mais, para sempre meus beijos emurchecerão! Triste! Triste de abandonada! (Mário de Andrade, Obra Imatura, 162)
«Que formosura tão de corte, de palácio, de aristocracia! Que pureza e correção de linhas! Que fidalguia de olhar e falar! (Camilo Castelo Branco, Obra Seleta, 87)
No entanto, se, a interromper o discurso ocorrer uma frase intercalada, esta inicia geralmente com minúscula, como se pode observar nos seguintes excertos:
«— Posso levar uma rosa? pergunta o poeta Adriano, avançando a mão para o meio da mesa» (Agustina Bessa-Luís, O Manto, 130)
«É esta a gaveta? — perguntou ele.» (Osman Lins, O Visitante, 53)
«— Que será feito do senhor padre Brito? perguntou D. Joaquina Gansoso (Eça de Queirós, Obras de Eça de Queirós, 43)
«Credo em cruz! gemeu Raimundo, assombrado.» (Graciliano Ramos, Alexandre e Outros Heróis, 147)
Tendo como referência estes pressupostos, concluímos que as frases que nos apresentou devem ter a seguinte forma:
«Que é isso? Você enlouqueceu?»
«No mundo tereis tribulação, mas, coragem! Eu venci o mundo.»
«Que paisagem linda! exclamou Pedro.»
«Que você dizia? indagou Lúcia.»
N.E. [24/04/2014] – São estas as regras do uso das minúsculas e das maiúsculas, estipuladas no Acordo Ortográfico de 1990 (Base XIX):
DAS MINÚSCULAS E MAIÚSCULAS
1 A letra minúscula inicial é usada:
a) Ordinariamente, em todos os vocábulos da língua nos usos correntes.
b) Nos nomes dos dias, meses, estações do ano: segunda-feira; outubro; primavera.
c) Nos bibliónimos/bibliônimos (após o primeiro elemento, que é com maiúscula, os demais vocábulos podem ser escritos com minúscula, salvo nos nomes próprios nele contidos, tudo em grifo): O Senhor do Paço de Ninães, O Senhor do paço de Ninães, Menino de Engenho, Menino de engenho, Árvore e Tambor ou Árvore e tambor.
d) Nos usos de fulano, sicrano, beltrano.
e) Nos pontos cardeais (mas não nas suas abreviaturas): norte, sul (mas: SW sudoeste).
f) Nos axiónimos/axiônimos e hagiónimos/hagiônimos (opcionalmente, neste caso, também com maiúscula): senhor doutor Joaquim da Silva, bacharel Mário Abrantes, o Cardeal Bembo; santa Filomena (ou Santa Filomena).
g) Nos nomes que designam domínios do saber, cursos e disciplinas (opcionalmente, também com maiúscula): português (ou Português), matemática (ou Matemática); línguas e literaturas modernas (ou Línguas e Literaturas Modernas).
2 A letra maiúscula inicial é usada:
a) Nos antropónimos, reais ou fictícios: Pedro Marques; Branca de Neve, D. Quixote.
b) Nos topónimos, reais ou fictícios: Lisboa, Luanda, Maputo, Rio de Janeiro, Atlântida, Hespéria.
c) Nos nomes de seres antropomorfizados ou mitológicos: Adamastor; Neptuno/ Netuno.
d) Nos nomes que designam instituições: Instituto de Pensões e Aposentadorias da Previdência Social.
e) Nos nomes de festas e festividades: Natal, Páscoa, Ramadão, Todos os Santos.
f) Nos títulos de periódicos, que retêm o itálico: O Primeiro de Janeiro, O Estado de São Paulo (ou S. Paulo).
g) Nos pontos cardeais ou equivalentes, quando empregados absolutamente: Nordeste, por nordeste do Brasil, Norte, por norte de Portugal, Meio-Dia, pelo sul da França ou de outros países, Ocidente, por ocidente europeu, Oriente, por oriente asiático.
h) Em siglas, símbolos ou abreviaturas internacionais ou nacionalmente reguladas com maiúsculas, iniciais ou mediais ou finais ou o todo em maiúsculas: FAO, NATO, ONU; H2O, Sr., V. Ex.ª.
i) Opcionalmente, em palavras usadas reverencialmente, aulicamente ou hierarquicamente, em início de versos, em categorizações de logradouros públicos: (rua ou Rua da Liberdade, largo ou Largo dos Leões), de templos (igreja ou Igreja do Bonfim, templo ou Templo do Apostolado Positivista), de edifícios (palácio ou Palácio da Cultura, edifício ou Edifício Azevedo Cunha).
Obs.: As disposições sobre os usos das minúsculas e maiúsculas não obstam a que obras especializadas observem regras próprias, provindas de códigos ou normalizações específicas (terminologias antropológica, geológica, bibliológica, botânica, zoológica, etc.), promanadas de entidades científicas ou normalizadoras, reconhecidas internacionalmente.