Presidenta, como quer que lhe chamem a presinte da Fundação José Saramago, ou "a" presidente? Maestrina ou "a" maestro? E como chamar às mulheres poetas? Uma reflexão de Ana Martins, na sua coluna "ver como se diz", no semanário "Sol" de 2 de Agosto de 2008.
«Presidenta, porque sou mulher» era o título da entrevista ao "Diário de Notícias" (6/07/08), que arrancava com a declaração de Pilar del Río, mulher do prémio Nobel e presidente da Fundação José Saramago: «Só os ignorantes é que me chamam presidente».
Presidente tem origem no particípio presente latino (praesidens, praesidentis), que não varia em género: presidente significa aquele ou aquela que preside e é classificado como um nome comum de dois géneros: diz-se o presidente como se diz a presidente.
O CETEMPúblico (base de dados de extractos de textos electrónicos do Público) regista 10 ocorrências de presidenta contra 15 mil ocorrências de presidente. O Corpus do Português Ferreira e Davies (outra base de dados, com 45 milhões de palavras) contém 18 ocorrências de presidenta. A elevada frequência de uma palavra é o critério a ter em conta para dicionarizar uma nova forma, mas recentemente atende-se também à declaração de vontade de mulheres e homens que embandeiram a igualdade dos sexos: o dicionário da Porto Editora (2006) já regista presidenta, a par de presidente como substantivo masculino e feminino (o que torna presidenta uma palavra excedentária).
Ignora-se estudanta ou concorrenta, mas estará certamente em ponderação uma mudança em nomes designativos de profissões que impliquem exercício de poder: dirigenta sindical, comandanta ou gerenta.
O problema é que esta mudança nunca pode ser estrutural ou sistemática, já que, por exemplo, governanta não é um simples feminino de governante… Acresce que há mulheres que preferem a forma masculina para designar a profissão que exercem: Natália Correia reclamava-se poeta (e não poetisa); Joana Carneiro diz que é maestro e não maestrina.
Tudo isto é discutível até à exaustão, mas o que é certo é que as boas presidentes e as maestrinas talentosas, no que toca a este assunto, nunca se chamarão ignorantes umas às outras.
Cf. O pânico woke
Artigo publicado no semanário Sol de 2 de Agosto de 2008, na coluna Ver como se diz.