Os excertos — «uma tímida fila de janelinhas», «fresco nome de vivenda», «paz dormente de bairro» e «onde já desmaiavam as rosas das grinaldas» — são, de facto, exemplos de hipálage.
Nos três primeiros, a hipálage ocorre a partir do valor sugestivo dos adjectivos — «tímida», «fresco» e «dormente» — que atribuem aos objectos («fila de janelinhas», «nome de vivenda» e «paz de bairro») características que pertencem a outros com os quais estão relacionados.
No último exemplo, a hipálage evidencia-se pelo recurso ao efeito sugestivo da forma verbal «desmaiavam», valorizando a impressão do movimento do desmaio e fazendo apelo à percepção do leve cheiro criado pela queda suave das pétalas das rosas das grinaldas.
Assim, cada um dos adjectivos está intimamente relacionado com as pessoas que habitam as casas presentes nas descrições — em «tímida fila de janelinhas» (o que é reforçado pelo diminutivo de janelas, como se o sujeito de enunciação quisesse passar a ideia de fragilidade e de timidez de alguém que aí vive); em «paz dormente de bairro», o adjectivo está, decerto, relacionado com a apatia e a passividade dos seus habitantes, como se fosse algo doentio, como se aquela «paz» não correspondesse a serenidade e a calma, mas a algo mais sombrio) — ou com o ambiente de frescura em que aquela vivenda está envolvida, insinuando a presença de árvores, de água, de sombras aprazíveis.
Por sua vez, a forma verbal «desmaiavam» para descrever o cair lento das pétalas das rosas das grinaldas, passando a sensação de lassidão, de fraqueza, de quebra de força e de vida, remete para a perda (de juventude, de alegria, de força interior, de abundância, de beleza...) da(s) pessoa(s) que as tinha(m).