Álvaro de Campos da Ode Triunfal é, como sabe, o futurista, aquele que se entusiasma com o frenesim da modernidade, com o progresso inovador, com a velocidade caótica de uma nova (des)ordem social, que vive o espasmo da vertigem, intensamente.
A Ode é, para ele, a maneira mais fácil de cantar este ritmo desenfreado, a amálgama de sensações indistintas, o delírio caótico de uma sociedade em mudança, que o leva num arrebatamento delirante.
Assim, esse primeiro verso arranca com uma força inusitada que incomoda o leitor quer pela estranheza do uso da palavra de um quotidiano banal, quer pelo conteúdo do tema, expondo desde logo um "eu" febril por submissão à sociedade da tecnologia indomável e cruel: a escrita é consequência da febre «Tenho febre e escrevo», isto é, escrevo porque tenho febre, provocada pela luz das grandes lâmpadas das fábricas.
É dolorosa a maneira como escreve, experimentando a sensação de sofrimento causada pela luz (aqui como exemplo da sociedade da máquina).
Deste ponto de vista, podemos dizer que há aqui uma hipálage, uma vez que a escrita é uma sua característica, é um traço dele, pois é por ela que ele se define desde logo no primeiro verso, a escrita é a sua maneira de estar no mundo e de dar conta dele aos outros.