Na frase apresentada pelo consulente existe um pleonasmo. Note-se que pleonasmo é a «redundância de termos no âmbito das palavras, mas de emprego legítimo em certos casos, pois confere maior vigor ao que está sendo expresso (p. ex.: ele via tudo com seus próprios olhos)» (Dicionário Houaiss). Embora seja claro no exemplo apresentado que não nos enganamos sem ser a nós próprios, o emprego do pleonasmo aqui é corretíssimo, pois, além de deixar clara a identidade de quem sai enganado («nós próprios»), permite indicar que o verbo é usado como sinónimo de «mentir» ou «ludibriar», reforçando o pronome nos. Note-se que, quando o verbo em questão é interpretado como sinónimo de equivocar-se, não é possível associar-lhe a construção pronominal enfática: «É erro nosso. Enganámo-nos» é uma sequência correta, mas «É erro nosso. Enganámo-nos a nós próprios» é uma sequência incorreta, se com o verbo enganar, na conjugação pronominal reflexa, quisermos dizer o mesmo que «equivocámo-nos».