A dúvida da consulente é entre:
«(Amália) pede a seu pai que dê licença» ou «(Amália) pede a seu pai que desse licença».
Estamos perante uma frase composta por um verbo (pedir) que introduz uma oração subordinada completiva («que dê licença» ou «que desse licença»). Neste tipo de frases, o tempo do verbo da oração subordinada depende do tempo do verbo da frase matriz. Assim, na frase em causa, se o tempo usado no verbo da frase matriz for o presente do indicativo — pede (como é nas duas frases alternativas que a consulente apresenta), o tempo do verbo da frase subordinada deverá ser o presente do conjuntivo dê. Usar-se-ia o imperfeito do conjuntivo — desse —, se o verbo da frase matriz estivesse no pretérito perfeito — pediu. Desta forma, estarão correctas as frases:
«(Amália) pede ao (seu) pai que dê licença.»
«(Amália) pediu ao (seu) pai que desse licença»
Passemos agora a algumas considerações sobre a passagem do discurso directo para discurso indirecto: para fazer este tipo de transformação, começamos por usar verbos que introduzem o discurso indirecto (dizer, pedir, perguntar, contar, etc.). Estes verbos usam-se normalmente no pretérito perfeito e introduzem orações subordinadas. Os verbos na oração subordinada deverão ter em conta o tempo do verbo da frase matriz, bem como o tempo dos verbos no discurso directo.
Assim, partindo da frase em discurso directo que o consulente apresenta, obtemos a seguinte frase em discurso indirecto:
«Amália disse que aqueles senhores queriam tratar dos seus negócios e pediu ao pai que lhe desse licença, ela retirar-se-ia.»
Temos duas frases (ou orações) coordenadas com verbos de elocução (dizer e pedir) que introduzem orações subordinadas completivas. Ambos os verbos estão no pretérito perfeito. Nas respectivas orações subordinadas, temos a transformação da frase do discurso directo em discurso indirecto, com as seguintes modificações:
—pronome demonstrativo: de este para aquele
—verbos:
a) de presente querem para pretérito imperfeito queriam;
b) de presente do indicativo dá para imperfeito do conjuntivo desse;
c) de presente retiro-me para condicional retirar-se-ia, ou a forma perifrástica, iria retirar-se. Não seria impossível, neste caso, usar o imperfeito retirava/ia retirar-se por se tratar efectivamente de um verbo no presente do indicativo no discurso directo. Mas, como sabemos, o presente pode ser usado com valor futuro. Sendo que isso se verifica na frase em questão, parece-me mais adequado o uso do condicional na frase de discurso indirecto.
Nesta frase, o uso do pronome possessivo — seu — não é necessário, por duas razões:
— o substantivo pai já estabelece a relação com Amália (filha);
—faz parte de uma forma de vocativo: «Meu pai» serve aqui para interpelar o pai, seu interlocutor.