A depender do sentido depreendido pelo contexto, pode-se interpretar o primeiro se de duas maneiras* – ora como (1) partícula apassivadora, ora como (2a) pronome reflexivo [ou (2b) reflexivo recíproco]:
(1) «As crianças se disciplinam logo cedo» > «Disciplinam-se as crianças logo cedo» > «As crianças são disciplinadas logo cedo».
Cabe dizer que a ordem normal do termo que funciona como sujeito na voz passiva sintética («as crianças»«) é após o verbo («Disciplinam-se as crianças...»); mas não se pode ignorar a possibilidade, menos comum, da ordem inversa desse termo, anteposto ao verbo.
(2a) Cada uma delas disciplina a si mesma, individualmente — nesse sentido, o se é pronome reflexivo; ou elas disciplinam a si mesmas, reciprocamente – nesse sentido, o se é pronome reflexivo recíproco.
No que diz respeito ao segundo se, o valor é reflexivo: «ela cortou a si mesma». Assim, o se funciona como objeto direto.
Um clássico critério distintivo entre o se apassivador e o se reflexivo é a paráfrase. No caso do apassivador, passa-se a frase para a voz passiva analítica; havendo gramaticalidade e manutenção do sentido original, chega-se à conclusão de que o se pode receber a classificação de apassivador («Motivou-se o aluno» = «O aluno foi motivado»). No caso do reflexivo, acrescenta-se a expressão reflexiva «a si mesmo» («Motivou-se o aluno» = «O aluno se motivou» = «O aluno motivou a si mesmo»).
Sempre às ordens!
* Pelo fato de o consulente ser brasileiro, julgou-se necessário usar não só os recursos didáticos (como a paráfrase explicitando a sinonímia frasal reflexiva, dentro dos padrões normativos brasileiros) como também a metalinguagem teórica tradicional existente no atual ensino de gramática no Brasil.
N. E. – A observação assinalada pelo asterisco foi atualizada em 18/09/2024.