A construção sem o verbo dever não é possível.
Os casos de elipse verbal1 normalmente envolvem orações de valor idêntico, como se exemplifica em (1):
(1) «O João comprou um livro e a Ana (comprou) um caderno.»
Para além disso, quando na primeira oração existe um complexo verbal (verbo auxiliar + verbo principal), normalmente apenas o primeiro é realizado na segunda oração, como em (2). Quando existe elipse do verbo principal, a estrutura será a mesma. Veja-se (3):
(2) «Os alunos têm comprado este livro e os professores também têm (comprado este livro).»
(3) «Os alunos têm comprado o livro azul e os professores (têm) comprado o livro azul.»
O processo de elipse que se propõe tem assim o problema de o complexo verbal ser diferente nas duas orações («dever ter medo» vs. «dever desistir»), o que dificulta a recuperação na oração coordenada do verbo auxiliar. Nesse caso, a opção natural para evitar a repetição seria a coordenação de orações infinitivas por meio da conjunção nem:
(4) «Não devemos ter medo de nada nem desistir da luta.»
A frase (4) distingue-se da frase proposta pelo consulente porque naquela construção se procura proceder a uma coordenação de estruturas oracionais negativas, o que impede a elipse. Já na frase (4), apresenta-se uma negação oracional de coordenação, o que ocorre pela utilização da conjunção nem2.
1. Cf. Matos in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 2362 e ss.
2. Para mais informações sobre a negação oracional, cf. Peres in idem, ibidem, pp. 464-479.