As construções apresentadas são muito curiosas porque nelas está presente uma relação entre um sujeito semântico e um predicado sem que exista a mediação de um verbo copulativo1. Assim, os constituintes «as filhas», «o marido», «minha namorada» funcionam como sujeito semântico (e não gramatical, note-se), na medida em constituem a entidade sobre a qual o predicado faz um comentário, «muito enfeitadas», «bêbado» e «atenta», respetivamente. Os constituintes nos quais está presente esta relação são, deste modo, equivalentes aos que se apresentam de seguida:
(1) «as filhas estão muito enfeitadas»
(2) «o marido está bêbado»
(3) «a minha namorada está atenta»
Estamos, assim, em presença de uma predicação secundária, uma vez que a predicação principal se associa em cada frase ao verbo nuclear gostar, ficar ou preferir. Note-se que as predicações secundárias se caracterizam por não serem mediadas por um verbo copulativo, como se disse anteriormente.
A situação descrita tem lugar com sintagmas introduzidos pela preposição com, tal como se dá conta na Gramática do Português: «Outro contexto não oracional em que pode ocorrer uma predicação de base adjetival ou nominal sem verbo copulativo é como complemento da preposição com, num sintagma preposicional com a função de adjunto adverbial e que significa algo como ‘dada a situação x’ ou ‘por causa da situação x’»2.
Embora não tenhamos identificado uma proposta de classificação sintática para os constituintes predicativos que integram estes sintagmas preposicionais, poderíamos propor, por similitude com a função de predicativo de complemento direto, que estes desempenham a função de predicativo do complemento da preposição.
Disponha sempre!
1. Esta situação está descrita, por exemplo, em Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 1286-1287.
2. Idem, ibid., p. 1296.