Não poderemos afirmar que a frase em questão esteja errada. Todavia, é certo que a construção é pesada, se não um pouco "barroca", e nela poderemos identificar alguma influência da estrutura da língua inglesa, na colocação do adjetivo antes do nome.
Note-se, porém, que a relação entre o nome e o adjetivo admite várias combinações:
(i) o adjetivo surge depois do nome quando tem um valor classificativo:
(1) «a sociedade britânica»
(ii) quando tem um valor avaliativo, o adjetivo pode surgir à esquerda ou à direita do nome:
(2) «uma sociedade hipócrita»
(3) «uma hipócrita sociedade»
(iii) com um adjetivo avaliativo e um adjetivo classificativo, a sequência «adjetivo avaliativo + nome + adjetivo classificativo» é muito frequente:
(4) «uma hipócrita sociedade britânica»
Ora, estes adjetivos avaliativos podem combinar-se com um advérbio também de valor quantificacional ou avaliativo:
(5) «a muito hipócrita sociedade britânica»
(6) «a claramente hipócrita sociedade britânica»
De acordo com esta última sequência, a estrutura apresentada em (7) é teoricamente possível. Não deixa, porem, de ser sentida como artificial1, pelo que seria preferível substituí-la por uma sequência pós-nominal como a que se apresenta em (8), onde se converteu a estrutura anteposta em oração relativa :
(7) «a horrivelmente hipócrita sociedade britânica»
(8) «a sociedade britânica, que é horrivelmente hipócrita»
Disponha sempre!
1. A sensação de artificialidade destes usos nos registos coloquiais é referida por Rita Veloso, que também explica a tendência para a anteposição de alguns adjetivos: «[...] os adjetivos que permitem um maior grau de subjetividade podem ser antepostos facilmente em qualquer tipo de registo, apesar de serem mais raros em registos coloquiais quotidianos; um bom exemplo são os adjetivos qualificativos de atitudes mentais e comportamentais: a simpática rececionista, o desonesto banqueiro, o discreto amigo [...].» (Raposo et al., Gramática do Português, Fundação Calouste Gulbenkian, 2013-2020.p. 1453)