A palavra bunker – que os dicionários já aportuguesaram como búnquer (dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, Dicionário Priberam e dicionário da Porto Editora) – tem uma curiosa história circular, entre o inglês e o alemão.
A palavra não é alemã nas suas origens, mas, sim, anglo-saxónica, mais precisamente, segundo uma página do Online Etymology, escocesa – do chamado scots, que faz parte do sistema dialetal anglo-saxónico –, assim explicando em parte porque no golfe, que é criação da Escócia, se chama bunker a um «buraco de areia que defende o green [= área de relva cortada no campo de golfe]»1.
O Dicionário Houaiss propõe a seguinte etimologia:
«inglês bunker (c1758) "banco, banco utilizado como cofre", acepção (1838) "paiol de carvão dum navio"; o termo de golfe (1824) é de origem desconhecida; acepção ["estrutura ou reduto fortificado, parcial ou totalmente subterrâneo, construído para resistir aos projéteis de guerra"], empréstimo do século XIX ao alemão Bunker "armazém de carvão duma usina, paiol de carvão dum navio"; no decurso da primeira guerra mundial, passou também a designar "abrigo blindado".»
A palavra foi, então, importada do inglês (que já a tinha tomado do escocês) pela língua alemã, passando a significar «armazém» e «abrigo blindado». Estas novas aceções foram associadas a bunker quando o inglês a retomou, ao que parece, pelo contacto bélico com as forças germânicas. De qualquer modo, trata-se de um empréstimo que passou ao português muito provavelmente com o u da pronúncia alemã. Como estrangeirismo, não se poderia dizer que fosse ilegítimo pronunciar o vocábulo bunker como "bânquer", com alteração vocálica característica do inglês, mas ainda pronunciável em português. Porém, havendo já aportuguesamento, que até apresenta u, o mais adequado será manter a pronúncia que mais se aproximar da versão teutónica: búnquer, portanto, como está dicionarizado.
Nota (atualização em 21/05/2016) – Enviou-me o professor Luís Gomes (Universidade de Glasgow) a seguinte achega, que muito agradecemos:
«O Oxford English Dictionary indica que bunker pode ser um banco (em scots), e suponho que estará ligado a bunk, substantivo que significa «cama» ou «tábua de madeira» (= «tábua de madeira que pode servir de cama; aliás, a palavra para beliche é bunk-bed»), mas também uma área desgastada em torno do green no golfe.
Sendo que os campos de golfe começaram por ser todos relvados, só relva (na Escócia há relva por todo o lado... qualquer baldio tem relva!), as depressões perto de qualquer green onde a bola ficasse encalhada e de onde fosse difícil tirar a bola desgastava-se quando se tentava tirar de lá a bola com o taco: quanto mais se tenta, maior o desgaste. E como os primeiros campos de golfe apareceram na costa, em terrenos arenosos, tirando a relva não ficava solo, mas um tipo de areia batida, do género da que há nas zonas onde as dunas dão lugar ao solo propriamente dito.
De depressão no solo a estrutura escavada no solo não é um passo muito grande. Bunker com o sentido moderno surge apenas na primeira grande guerra, que foi também quando foi inventado aço blindado.
A sequência un em alemão costuma ser pronunciada como u português e como n [e.g., und (alemão) = e (português) = and (inglês)]. Por isso, em alemão é /bunka/, em inglês é /banka/ (o r é mais ou menos quase silencioso).»
N. E. (07/10/2020) – O plural de búnquer é búnqueres, com e aberto na sílaba -que-, tal como jóquer tem o plural jóqueres, também com e aberto na penúltima sílaba.