Trata-se de um rótulo depreciativo que, nos tempos coloniais, os portugueses, em Angola se chamavam a si próprios (e eram assim chamados pela população local) devido ao seu estatuto subalterno em relação à "metrópole", que deixaram por motivos políticos ou económicos. Mas era mais em relação aos já nascidos em Angola que se recorria à expressão «branco de segunda».
Num estudo à volta do romance Yaka, do escritor angolano Pepetela, encontra-se uma passagem que esclarece o sentido atribuído a «branco de segunda» ou «português de segunda», no contexto das relações entre as personagens de uma ficção narrativa com valor documental porque retrata a sociedade colonial (Laura Cavalcante Padilha, "O sapalalo ou uma casa entre dois mundos em Benguela" in Novos pactos, outras ficções: ensaios sobre literaturas afro-luso-brasileiras, Porto Alegre, EDIPUCRS, 2002, pág. 73):
«O segmento [étnico] branco, lugar simbólico focalizado de forma mais direta pelo olho-câmera do narrador, compõe-se de indivíduos percebidos, de um modo ou de outro, como cidadãos portugueses de segunda classe. Uma parte deles se constitui de pessoas que, por motivos políticos ou econômicos, são obrigadas a deixar Portugal, algumas delas em busca da "árvore das patacas", referenciada no próprio texto [...]. Num primeiro grupo ainda se encontram os brancos nascidos em Angola [...]. Tal nascimento se torna absolutamente estigmatizador, pois a "mácula" se inscreve nos documentos oficiais onde se declara a condição acachapante de "brancos de segunda" atribuída a esses "malnascidos". A propósito, convém recuperar a fala esclarecedora de um dos assinalados pelo epíteto por ter nascido aqui, o personagem Ernesto: "O certo é que sou branco de segunda por ter nascido aqui. Não tenho acesso a todos os graus do funcionalismo público. Isso quer dizer alguma coisa. Cada vez me convenço mais que os tipos tinham razão em querer a independência" [...].»*
Outros exemplos que permitem interpretar esta expressão:
1. «[...] [A] situação colonial em Angola e Moçambique estava repleta de tensões raciais: para além da tensão entre os "brancos civilizados" e os outros grupos sociais, a discriminação racial autorizava a segmentação demográfica da população branca em "brancos europeus" e "brancos de segunda", os nascidos nas colónias [...]» (Maria Paula G. Meneses, "O ‘indígena’ africano e o colono ‘europeu’: a construção da diferença por processos legais", e-cadernos, 7, 2010, pág. 86).
2. «Por ter nascido em Angola, fui rotulado de “branco de segunda”. Essa tão iluminada condecoração, dada pelo provincialismo reinante no colonialismo português.» (publicação de 18/03/2010 do blogue Aventar)
* Numa outra passagem do mesmo romance de Pepetela (Yaca, Publicações D. Quixote, Lisboa, 1985, pág. 36), a expressão «branco de segunda» volta a propósito das chuvas e dos mosquitos na zona de Benguela, ainda Angola, que, no período em causa (1890-1904), tinha o estatuto oficial de Colónia Portuguesa da África Ocidental: «[...] Os negros aguentavam bem. Estavam habituados e tinham umas raízes e uns pós que ajudavam. Ou então morriam e ninguém que dava por isso, muito menos Alexandre menino, os negros não entravam nas estatísticas. Nós, os brancos, estávamos indefesos contra o paludismo. Depois começou a usar-se quinino. A época das chuvas foi a pior. O calor apertava, era preciso abrir as janelas e os mosquitos entravam. Lembro-me, horrorizado, de ter de comer a sopa à noite. Mas nisso a minha mãe era inflexível. E o que mais me irritava é que o meu pai não comia, dizia que era branco de primeira, não estava habituado ao calor. Minha mãe e eu éramos brancos de segunda, por termos nascido em Angola. Mesmo no meu primeiro bilhete de identidade vinha: raça – branco de segunda. [...]»