As frases apresentadas são compostas por três orações:
(i) «contacte as autoridades» - Oração subordinante
(ii) «se vir algo que lhe pareça/parecer estranho» - oração subordinada adverbial condicional
(iii) «que lhe pareça/parecer estranho» - oração subordinada adjetiva relativa (encaixada na oração condicional)
A conexão entre a oração subordinada adverbial condicional e a oração subordinante evidencia a seguinte relação temporal: o futuro do conjuntivo usado na oração subordinada contribui para a expressão de um valor hipotético, enquanto o presente do conjuntivo da oração subordinante, aqui usado como forma supletiva do modo imperativo, exprime um valor de conselho. Isto significa que a oração subordinada adverbial condicional expressa um mundo possível1, apresentando uma possibilidade relativamente à qual, a tornar-se real, se deve seguir a indicação dada na oração subordinante.
A diferença entre as duas frases apresentadas pelo consulente reside na seleção do tempo verbal da oração subordinada adjetiva relativa: em (1) recorre-se ao presente do conjuntivo e em (2) ao futuro do conjuntivo:
(1) «Se vir algo que lhe pareça estranho, contacte as autoridades.»
(2) «Se vir algo que lhe parecer estranho, contacte as autoridades.»
Atendendo aos usos comuns, julgo que a frase (1) estará correta, sendo a (2) de aceitação duvidosa. Assim, em (1), o recurso ao presente do conjuntivo introduz na oração um valor de possibilidade (i.e., «na eventualidade de se deparar com algo estranho»). Já a frase (2) seria aceitável se fosse redigida como em (3):
(3) «Se algo lhe parecer estranho.»
Nesta situação, o futuro do conjuntivo está associado à oração subordinada adverbial condicional, conferindo-lhe um valor de possibilidade.
O Ciberdúvidas agradece os votos apresentados pelo consulente.
1. Para aprofundar a questão das orações condicionais, cf., por exemplo, Mira Mateus et al., Gramática da Língua Portuguesa. Caminho, p. 707 e ss.)
2. Cf. Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 685-693.