O nome que designa o crente que professa o islamismo é islamita. É esta a forma consagrada pela tradição gramatical portuguesa, designadamente por Celso Cunha e Lindley Cintra, que escrevem:
«Nem todos os designativos de sectários ou partidários de doutrinas ou sistemas em -ismo se formam com o sufixo -ista. Por exemplo: a protestantismo correspondente protestante; a maometismo, maometano; a islamismo, islamita.
Contudo, o recente Grande Dicionário da Língua Portuguesa (2003), da Porto Editora, atribui duas acepções a islamismo:
«1 religião monoteísta fundada pelo profeta árabe Maomé cuja doutrina se encontra codificada no Corão, o livro sagrado dos muçulmanos, maometismo; 2 movimento político de expansão da religião árabe.»
O mesmo dicionário segue o uso descrito por Cunha e Cintra (ibidem), quando só regista islamita como nome e adjectivo dos dois géneros correspondente a islamismo, definindo-o assim: «que ou pessoa que segue o islamismo».
Vemos ainda que o Grande Dicionário não inclui a forma “islamista”, pelo que islamita tanto é um crente no Islão, como um crente que milita num movimento político que defende a expansão (ou a defesa, depende da perspectiva) do Islão.
Em França, Olivier Roy, no seu livro Généalogie de l’islamisme (Paris, Hachette, 2001), define o islamismo já não como religião, mas sim como uma corrente política : «O islamismo é uma ideologia que quer fazer do Islão e do respeito integral da “chariat” um modelo político alternativo à democracia» (original francês: «L’islamisme est une idéologie qui veut faire de l’islam et du respect integral de la chariat un modèle politique alternatif à la démocratie.»).
Pergunta-se, então: é necessário aceitar a forma “islamista” como designação do seguidor do islamismo como corrente política? Se a forma islamita é a que tem legitimidade, não será, no entanto, melindroso atribuir o nome do praticante de uma religião ao que defende uma dada actuação política? Se “islamista” não deve ser usado, é aconselhável criar um termo para estes militantes? “Radicais islâmicos”? “Radicais muçulmanos”? E será que é necessário distinguir? Não são estes militantes, também eles, muçulmanos devotos?
Pedi a dois dos nossos consultores que dessem um parecer sobre este assunto.
Fernando V. Peixoto da Fonseca considera o seguinte:
«Islamita é a pessoa que segue o islamismo, ou seja, o maometismo, a religião muçulmana pregada por Maomet ou Mafoma. Quanto a "islamista" está errado, como já aqui foi dito, pelo que não se deve usar em caso algum.»
Maria Regina Rocha, por seu lado, considera que islamita é a forma legítima em português, pelo que considera igualmente incorrecto o termo “islamista”. Argumenta que o francês não distingue entre crente no Islão e militante do islamismo, porque possui as palavras “islamique” e “islamiste”, que se aplicam a ambos os casos. Assim sendo, não aceita que se crie em português um segundo termo, quando em francês “islamiste” se refere aos dois “islamismos”, o religioso e o político. Mais considera que falar em «radicais islâmicos» é criar uma expressão que encerra um juízo de valor que descura a possibilidade de estes alegados «radicais» julgarem que actuam enquanto seguidores do Islão .
Em conclusão, do ponto de vista da tradição, há fortes argumentos para a rejeição da forma islamista. No entanto, nos media, a intensificação do uso e a necessidade de encontrar um termo que distinga claramente entre os indivíduos e os setores assim denominados e as restantes comunidades islâmicas justificam que islamista seja forma a aceitar pela norma.
N.E.– Islão (ou islã no português do Brasil) provém do árabe islam, que significa «entrega à vontade de Deus». É o mesmo que islamismo (de islame + suf. -ismo). Ou seja, é a religião muçulmana, fundada por Maomé e cujos preceitos estão contidos no Alcorão; o mesmo que maometismo, ou maometanismo, ou muçulmanismo. O termo islão também se emprega na acepção do conjunto dos povos e países muçulmanos.