Não há dúvida de que, no verso apresentado, há a repetição da conjunção que («esse vento que sopra e que ateia incêndios»), demarcando e evidenciando as particularidades das duas acções do vento, de modo que não se considere que a segunda seja a continuidade da outra, mas que uma é distinta da outra. Mas poder-se-á considerar essa repetição, no interior de um verso, uma anáfora? Se nos basearmos no conceito puro de anáfora, como a figura de retórica «que consiste na repetição de um mesmo termo no início de várias frases, criando um efeito de reforço e de coerência» (E-Dicionário de Termos Literários ), apercebermo-nos-emos de que esse caso não corresponde aos requisitos da anáfora. De facto, o termo que não é repetido no início de várias frases (aqui só há exemplo de um verso).
Relativamente à questão sobre a assonância, ou seja, a «repetição de sons vocálicos em sílabas tónicas ou em palavras que terminam com diferentes sons consonânticos» (idem), poderemos dizer que em «esse vento que sopra e que ateia os incêndios» se verifica a correspondência de sons vocálicos semelhantes, o que confere musicalidade ao verso e contribui para a criação de um ritmo sugestivo.