DÚVIDAS

A nova nomenclatura e tipos de texto

No CD fornecido pelo ME sobre a nova nomenclatura são apontados como protótipos textuais: descritivo, narrativo, argumentativo, expositivo-explicativo, injuntivo-instrucional e dialogal-conversacional. A minha pergunta é: onde cabe aqui o texto lírico? Também o texto dramático oferece problemas porque, se numa análise detalhada podemos encontrar diversos protótipos, numa análise global como vamos classificá-lo? Será que estou a confundir dois níveis de análise diferente? Agradecia um esclarecimento.

Resposta

Mário Vilela na sua Gramática da Língua Portuguesa: Gramática da Palavra: Gramática da Frase: Gramática do Texto, Almedina, 2. ª ed. 1999, propõe uma tipologia em que inclui com quatro tipos de texto: argumentativo; explicativo; descritivo e narrativo (p. 488 a 497). Define ainda, na página 482, três linhas gerais que permitem o estabelecimento de tipologias textuais:

«(i) As que tomam em consideração as características textuais internas dos textos
(ii) as que consideram os traços textuais exteriores aos textos
(iii) as que combinam os traços externos com os traços internos.»

Creio que a interpretação que se poderá fazer tanto desta tipologia como da que surge na TLEBS é a de que se trata de uma organização que se preocupa com as estruturas linguísticas e, sobretudo, discursivas em causa. Assim, em (i) prevalece a coesão, ou seja, a articulação interna do texto, enquanto em (ii) a supremacia é da coerência, que tem em conta a relação do texto com um contexto (real ou fictício). Em (iii) haverá um jogo entre coesão e coerência. Não me parece (mas devo confessar que não me sinto muito segura nesta matéria) que a preocupação seja encarar um texto enquanto arte, como é o texto literário, mas encarar qualquer texto na sua complexidade e face aos recursos linguísticos que activa. Por exemplo, um texto dialogal-conversacional promove, com certeza, estruturas linguísticas que vão fazer falta a um escritor que crie um texto dramático. E um texto lírico pode encaixar-se em (i), vivendo da, e para a, sua estrutura interna; ou em (iii) conjugando estratégias.
Imagino, pois, que se trata de abordagens diferentes. Na TLEBS, como na gramática de Mário Vilela, um texto implica determinado tipo de abordagens, ou estratégias. Na literatura, já foi feita uma seriação prévia e analisam-se essas estratégias num conjunto de textos considerados como obras de arte, que, no subgrupo dos textos, poderá ter classificações específicas. Não pretendo com isto dizer que um diálogo assíduo entre literatura e linguística não seja desejável, antes pelo contrário.

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