O Dicionário Lello Estrutural, Estilístico e Sintáctico da Língua Portuguesa regista apenas a locução «à memória de», abonando-a com a frase «escreveu um extenso artigo na revista à memória do amigo», parafraseada como «em homenagem ao [amigo] falecido.» No entanto, também é aceitável usar «em memória de» desde que definamos o respectivo contexto. Há, portanto, uma diferença semântica entre as duas locuções em apreço.
Assim, no princípio de uma obra impressa, como dedicatória, usa-se «à memória de», porque se depreende que o livro é «dedicado ou dirigido a alguém (já falecido)»; por outras palavras, como ficam subentendidos os verbos dedicar ou dirigir (aos quais se associa uma ideia de deslocação e transferência), deve-se empregar a preposição a, porque é com ela que esses verbos constroem a respectiva regência.
Se se trata de um objecto ou de uma obra que lembram ou relembram alguém, considera-se que têm uma finalidade especial: a de existirem «em memória de alguém». Por outro lado, como a este contexto faltam as características dinâmicas de dedicar e dirigir, a locução mais adequada é «em memória de», em que ocorre a preposição em, cujo significado genérico é tendencialmente locativo, sem sugerir transferência.1
1 Agradeço à Dra. Maria Regina Rocha as observações que me transmitiu sobre este assunto.