No quadro do Acordo Ortográfico de 1990 (AO 90) e tendo em conta a interpretação que os vocabulários ortográficos atualizados fazem da sua Base XV (secções 1 e 6) deverá escrever «azul e branco», sem hífen1.
Não é claro que, antes da aplicação do AO 90, se hifenizassem as unidades lexicais constituídas por dois adjetivos coordenados, isto é, ligados pela conjunção e. No Brasil, casos como os de verde-e-amarelo ou preto-e-branco exibiam hífen ao abrigo do Formulário Ortográfico de 1943, que vigorou no Brasil até ao fim de 2008, como evidencia a 1.ª edição do Dicionário Houaiss, publicada em 2001. No contexto da Convenção Ortográfica de 1945, vigente em Portugal até meados de 20152, os vocabulários ortográficos correspondentes não registam exemplos deste tipo (cf. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa de 1940 e Rebelo Gonçalves, Vocabulário da Língua Portuguesa, 1966); já a 1.ª edição do dicionário da Academia das Ciências de Lisboa (2001) inclui a entrada verde-e-branco, como o mesmo que «sportinguista», isto é, «adepto do Sporting Clube de Portugal», mas apresenta «preto e branco», sem hífenes, como subentrada de preto. Conclui-se, portanto, que unidades adjetivais que integrassem a conjunção e não tinham ortografia uniforme em Portugal.
Com a aplicação do AO 90 em Portugal e no Brasil, verifica-se que os vocabulários ortográficos existentes não registam a entrada direta deste tipo de adjetivos escritos com hífen, donde se infere que tais itens se escrevem sem hífen e, portanto, são tratados graficamente como simples sintagmas.4 Por outras palavras, deduz-se que se escreverá «azul e branco» em a «equipa azul e branca», tal como se escreve «azul e branca» em «a minha casa é azul e branca».
1 Na terminologia seguida pelo AO 90, a Base XV diz explicitamente que os elementos dos compostos hifenizados são necessariamente nomes, adjetivos, verbos ou numerais. As preposições são aí apresentadas como elementos de ligação, e tudo indica as conjunções são tomadas da mesma maneira.
2 Sobre a data em que o AO 90 entrou plenamente em vigor – à volta da qual há também grande polémica –, depois do período de transição que começou em 2009, ler "Novo acordo ortográfico, período de transição".
3 Sobre a questão do uso do hífen com elementos de ligação em compostos e locuções, leia-se D´Silvas Filho, "O pôr-de-sol e o simplificacionismo do hífen", publicado em 8/9/2016 no Pórtico da Língua Portuguesa e também disponível em "Contributos para um aperfeiçoamento do AO 90".
4 Entretanto, observe-se que no momento em que se escreve esta resposta, a Academia das Ciências de Lisboa (ACL) prepara a 2.ª edição do seu dicionário e, para tanto, está a definir um conjunto de aperfeiçoamentos decorrentes de uma interpretação do AO 90 mais enquadrada nas normas ortográficas anteriores aplicadas ao português de Portugal. Essas modificações abrangem justamente o uso do hífen em compostos que integrem elementos de ligação e tenham um significado global autónomo, não dedutível dos significados dos seus constituintes, conforme propõe Ana Salgado (ACL), no parecer académico intitulado Sobre o emprego do hífen. Compostos vs. Locuções (in Pórtico da Língua Portuguesa, 13/12/2017)3.