Poderemos dizer que estamos perante uma situação de lexicalização quando, independentemente da existência ou não de hífen, os elementos que constituem uma dada unidade de sentido, noutras circunstâncias, poderiam ter significado individual, ou seja, poderiam ser um grupo ou sintagma. Tomemos como exemplo abre-latas. Estamos perante a lexicalização de algo que pode ocorrer em outros contextos: «O João abre latas todos os dias», «Este objeto abre latas». Simultaneamente, a lexicalização é tão profunda, que estamos perante uma palavra composta. Aliás, verbo + nome é um dos processos de composição produtivos em português, contrariamente ao que está subjacente às palavras em apreço — nome + de + nome.
O grau de lexicalização de uma expressão pode ser diferente em diferentes momentos da língua. E em cada momento há expressões com diversos graus de lexicalização; o que conduz a que algumas das expressões lexicalizadas sejam, por exemplo, introduzidas em dicionários, com o estatuto pleno de palavras, e outras o não sejam. No caso dos dois exemplos que apresenta — cor-de-rosa e cor de laranja, ambos ocorrem no dicionário da Porto Editora, disponível gratuitamente. E ambas surgem também no Vocabulário Ortográfico do Português do ILTEC. No caso de cor-de-rosa, apresenta duas variantes, com hífen e sem hífen.
Vale a pena referir por um lado, que o Dicionário Terminológico contempla apenas as locuções prepostivas, adverbiais e conjuncionais; por outro lado, que o novo acordo, em si, não tem influência no conceito de lexicalização.