A explicação proposta é que se aceita geralmente, mesmo noutras línguas europeias, faladas em países onde também o desenho de uma cruz – o sinal X – era procedimento comum para quem não sabia escrever e tinha de validar um documento.
A versão em francês do artigo sobre assinatura na Wikipédia (consultada em 07/04/2022), confirma esta motivação, muito embora não identifique fontes académicas:
«Au Moyen Âge, les lettrés comme les illettrés peuvent apposer un seing (du latin signum) sur des contrats, de la correspondance. Souvent ce ne sont que des croix autographes, mais ces seings peuvent aussi être un monogramme, des paraphes mis au bout de la signature (initiales ou toute autre symbolique permettant une double authentification), des maximes, un seing manuel royal [...], voire la marque des armoiries autographes ou créées par des sceaux et cachets, en fait tout motif symbolique peut être représenté.» [tradução livre: «Na Idade Média, tanto as pessoas alfabetizadas como os analfabetos podiam apor uma assinatura (em francês seing, do latim signum) a contratos e à correspondência. Muitas vezes essas assinaturas são apenas cruzes autógrafas, mas também podem ser monogramas, rubricas colocadas no final da assinatura (iniciais ou qualquer outro sinal que permita dupla autenticação), máximas, subscrições autógrafas reais, ou até a marca de brasões autógrafos ou criados por selos e carimbos, na verdade, qualquer motivo simbólico pode ser representado.]
Não foi possível aqui reunir informação em português sobre a história do uso deste sinal, mas a expressão «assinar de cruz» encontra definição em dicionários gerais. O Dicionário Houaiss inclui-a, associando-lhe a variante «assinar em cruz» e consignando-a como subentrada a cruz, com um significado diretamente relacionado com a sua motivação histórica: «pôr uma cruz (quem não sabe escrever) em lugar do nome». No Dicionário Priberam, regista-se «assinar de cruz», com a referida variante, já em sentido figurado, como o mesmo que «assinar ou aprovar sem ler ou sem perceber». No Dicionário de Expressões Correntes (Editorial Diário de Notícias, 2000), de Orlando Neves, juntam-se as duas aceções: «ser analfabeto; aderir a qualquer situação, sem nela refletir».