Agradeço o comentário do consulente.
A resposta foi reformulada de modo a referir a análise mais tradicional de se como partícula apassivadora. Permito-me, no entanto, lembrar que é também legítimo considerar que o pronome se pode ocorrer como marcador de sujeito indeterminado mesmo com verbos transitivos. Evanildo Bechara, na Moderna Gramática Portuguesa (Rio de Janeiro, Editora Lucerna, 2002, p. 178) refere-se a esta possibilidade:
«[...] o se como índice de indeterminação de sujeito – primitivamente exclusivo em combinações com verbos não acompanhados de objeto direto – estendeu seu papel aos transitivos diretos (onde a interpretação passiva passa a ter uma interpretação pessoal: Vendem-se casas = "alguém tem casas para vender") e de ligação (É-se feliz). A passagem deste emprego da passiva à indeterminação levou o falante a não mais fazer concordância, pois o que era sujeito passou a ser entendido como objeto direto, função que não leva a exigir o acordo do verbo:
Vendem-se casas (= "casas são vendidas") -> Vendem-se casas (= "alguém tem casas para vender") -> Vende-se casas.
"Vende-se casas" e "frita-se ovos" são frases de emprego ainda antiliterário, apesar da já multiplicidade de eventos. A genuína linguagem literária requer vendem-se, fritam-se. Mas ambas as sintaxes estão corretas, e a primeira não é absolutamente, como fica demonstrado, modificação da segunda. São apenas dois estágios diferentes de evolução. Fica também provado o falso testemunho que levantaram à sintaxe francesa, que em verdade nenhuma influência neste particular exerceu sobre nós..." [Martinz de Aguiar, Notas e Estudos de Português, 2.ª ed. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas].»
De qualquer modo, adotando a análise mais conservadora (a que apenas aceita o se apassivador com verbos transitivos), verifica-se que a frase tem um sujeito simples, por paradoxal que isto possa parecer. Com efeito, a oração «que é possível que haja vida noutros planetas» integra outra completiva na sua estrutura interna, «que haja vida noutros planetas». Note-se, contudo, que a relação entre estas orações, a matriz e a completiva que nela está encaixada, é de subordinação, e não de coordenação; como tal, a sequência por elas constituída não se classifica como sujeito composto.
Na perspetiva segundo a qual a frase apresenta uma construção passiva, só poderíamos falar de sujeito composto oracional se duas orações coordenadas desempenhassem tal função num frase, como em 1:
1. «Diz-se que há água em Marte e que a vida é possível nesse planeta.»
Assinalo, porém, que o estatuto oracional do sujeito de 1 não permite desencadear a concordância, ao contrário do que acontece com grupos nominais: «vendem-se um apartamento e uma garagem».