O constituinte apresentado, retirado de uma frase de um artigo de Clara Ferreira Alves1, desempenha a função sintática de complemento oblíquo.
Na frase apresentada, o verbo ralar é usado pronominalmente com o sentido de «não dar importância a». Com este sentido o verbo seleciona um complemento introduzido pelas preposições por ou para.
De modo a confirmar a função sintática desempenhada pelo constituinte, podemos recorrer à construção pseudoclivada, que assenta na estrutura «O que o SUJEITO fez foi SINTAGMA VERBAL». Esta construção não permite que os complementos do verbo surjam antes da forma foi. Apenas os modificadores do grupo verbal poderão ocupar esta posição. Simplificamos a frase para facilitar a análise:
(1) «Ela estava-se ralando para o que os outros sofrem.»
(1a) «O que Ela fez foi estar-se ralando para o que os outros sofrem.»
(1b) «*O que Ela fez para que os outros sofrem foi estar-se ralando.»
A inaceitabilidade da frase (1b) mostra que o constituinte «para o que os outros sofrem» não pode ser afastado do verbo, pelo que desempenha a função de complemento oblíquo.
Disponha sempre!
*assinala a inaceitabilidade da frase.
1. Clara Ferreira Alves, «Todas as cartas de amor são ridículas e outras nem chegam a sê-lo», in E – A Revista do Expresso, 19 de janeiro de 2019, pp. 22-23.