À luz do Dicionário Terminológico (DT), nunca e jamais devem ser classificados como advérbios de predicado com valor temporal, à semelhança de recentemente, que ocorre num exemplo apresentado no verbete respeitante a essa classe de advérbios: «[...] Os rapazes chegaram recentemente. — Valor temporal»
Conforme se pode ler nesse verbete, o advérbio de predicado é um «[a]dvérbio com diferentes valores semânticos [...], que ocorre internamente ao grupo verbal, quer com função de complemento oblíquo, quer como modificador do grupo verbal (e, mais raramente, como predicativo do sujeito), podendo ser afectado pela negação [...] ou por estruturas interrogativas [...].»
Dado que a estes advérbios se podem associar diferentes valores semânticos, é possível identificar um subgrupo caracterizado por possuir valor temporal — é o caso do já mencionado recentemente, ao qual cabe aqui juntar sempre, nunca e jamais.
Assinale-se igualmente que a classificação de nunca e jamais como advérbios com valor temporal encontra paralelo em manuais e gramáticas de português anteriores ao aparecimento do DT, salvaguardadas certas diferenças terminológicas. Por exemplo, Paul Teyssier, no Manual de Língua Portuguesa (Portugal- Brasil) (Coimbra, Coimbra Editora, 1989, pág. 328) assinala a oposição entre sempre, por um lado, e nunca e jamais, por outro, mas inclui estes três advérbios nos advérbios de tempo.1 Também Celso Cunha e Lindley Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo (Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1984, pág. 539), integram nunca e jamais nos advérbios de tempo, uma das várias "espécies" de advérbios que esses gramáticos distinguem, seguindo a Nomenclatura Gramatical Brasileira de 1959 e a Nomenclatura Gramatical Portuguesa de 1967 (NGP 1967). Mais recentemente, João Costa e Ana Costa, em O que é um Advérbio (Lisboa, Edições Colibri, 2001, pág. 56), listam nunca e jamais entre os advérbios de tempo.2
Voltando ao DT, é de assinalar que nunca e jamais não são advérbios de negação, como se esclarece em nota ao verbete correspondente à entrada Advérbio de negação (secção B 3.1. Classe Aberta de Palavras):3
«Os advérbios nunca e jamais, apesar de serem palavras negativas, não são advérbios de negação, uma vez que, em frases como "Eu não estive lá nunca", "nunca" não é a palavra responsável pelo valor afirmativo ou negativo da frase. Comportam-se, assim, como palavras que, excepto em posição pré-verbal, precisam de co-ocorrer com um advérbio de negação.»
1 Sabendo que sempre, como recentemente, tem valor temporal, verifica-se que nunca e jamais se comportam como negação daquele:
(i) Ela chora sempre.
(ii) Ela não chora nunca/jamais.
2 Ver também João Costa, O Advérbio em Português Europeu (Lisboa, Edições Colibri, 2008).
3 Numa antiga gramática escolar — J. M. Nunes de Figueiredo e A. Gomes Ferreira, Compêndio de Gramática Portuguesa, Porto, Porto Editora/ Livraria Arnado/Empresa Litográfica Fluminense, s.d , págs. 299 3 301 —, na qual se aplica a NGP 1967, os advérbios nunca e jamais pertencem a duas classes, a dos advérbios de tempo e a dos advérbios de negação.