Em relação ao período – 1807-1810 – durante o qual Portugal foi invadido três vezes pelas tropas napoleónicas, diz-se e escreve-se «Invasões Francesas», que é um nome próprio composto, formado por um nome deverbal – invasão (de invadir) – e um adjetivo relacional – francesas, no plural –, com a função de complemento do nome.
Observe-se que invasão, como nome comum, é um nome eventivo (marca um evento) que deriva de um verbo, invadir (é, portanto, um nome deverbal)1. Assim como o sujeito deste verbo tem o papel semântico de agente («os Franceses invadiram Portugal»), também o nome derivado (invasão) pode ter associado um complemento com o mesmo papel semântico – caso de «dos Franceses» em «as invasões dos Franceses». Este complemento é frequentemente realizado por um grupo preposicional («invasões dos Franceses»), mas também é possível ocorrer um grupo adjetival – «invasões francesas» –com a mesma função sintática.
Acrescente-se que francês e as formas da sua flexão constituem não um adjetivo qualificativo, mas, sim, relacional, visto que francês deriva de um nome (França, um nome próprio), relativamente ao qual instancia uma relação de posse (francês = «é da França, que pertence a este país»)2.
Convém dizer, por último, que a análise mais ou menos aprofundada de nomes próprios compostos como «Invasões Francesas» se pode justificar no ensino universitário, mas não no ensino secundário e muito menos nos primeiros anos da escolaridade.
1 Embora os radicais de invadir e invasão sejam ligeiramente diferentes – invad- e invas- respetivamente –, considera-se que estas formas são variantes do mesmo morfema, estabelecendo assim uma relação de alomorfia, ou seja, uma relação em que duas formas diferentes representam o mesmo constituinte morfológico.
2 Ver o exemplo de «americana» em «invasão americana», associado à definição de adjetivo relacional no Dicionário Terminológico.