A construção em causa é aceitável.
O sintagma em análise é considerado uma nominalização, ou seja, uma conversão de um sintagma verbal numa construção em torno de um nome formado a partir do verbo (chamado nome deverbal). Este tipo de construção parte de um sintagma verbal, como o que se apresenta em (1), e resulta na nominalização apresentada em (2):
(1) «A carta chegou.»
(2) «a chegada da carta»
O nome chegada é considerado deverbal. Nomes desta natureza têm a particularidade de herdar os argumentos do verbo. Por essa razão, chegada é um nome que pede um complemento. Neste caso, o complemento «da carta» corresponde ao sujeito do verbo chegar e expressa o agente da ação, aquele que a executou. Este tipo de complemento, que corresponde ao sujeito no sintagma verbal, é introduzido pela preposição de.
Como resultado deste processo de nominalização, é também possível que o nome peça dois argumentos, que resultam da estrutura argumental do verbo. É o que acontece na passagem de (3) para (4):
(3) «O João elogiou a Rita.»
(4) «o elogio do João à Rita»
Uma vez que o nome só admite complementos à sua direita, o sujeito verbal é colocado imediatamente a seguir ao nome elogio, sendo introduzido pela preposição de («do João») e o complemento direto verbal é colocado a seguir, sendo, neste caso, introduzido pela preposição a («à Rita»).
Neste processo de nominalização, uma das questões que se pode colocar está relacionada com a seleção da preposição que introduz cada um dos complementos do nome. Neste âmbito, como se disse, o sujeito verbal converte-se normalmente num nome introduzido por de. A questão da preposição que introduz o nome que era complemento direto do verbo é mais complexa, tendo várias possibilidades. Quando se trata de um complemento único do nome, a preposição de é frequentemente selecionada, em construções como (5):
(5) «a compra do livro» (nominalização de «comprei o livro»)
No entanto, quando o nome tem dois complementos, alguns falantes consideram que, com certas construções, é pouco aceitável o uso da preposição de a introduzir os dois complementos, como acontece em (6):
(6) «?a invasão dos Árabes da Península Ibérica1» ( nominalização de «os Árabes invadiram a Península Ibérica»)
Para além disso, há nomes deverbais que se podem construir com a preposição a. Esta seleção acontece sobretudo com nomes que têm o valor de paciente afetado (sobre o qual recai a ação do verbo ou o que sobre a ação do verbo), como em (7):
(7) «as ameaças (do professor) ao Pedro»2 (nominalização de «o professor ameaçou o Pedro»)
Perante tudo o que ficou exposto, considera-se que é aceitável a construção aqui transcrita em (9), como nominalização da frase ativa apresentada em (8), sendo a frase (10) de aceitabilidade duvidosa:
(8) «a Rússia invadiu a Ucrânia»
(9) «a invasão da Rússia à Ucrânia»
(10) «?a invasão da Rússia da Ucrânia»
É também possível construir uma nominalização a partir da construção passiva, tal como se observa na passagem de (11) para (12):
(11) «a Ucrânia foi invadida pela Rússia.»
(12) «a invasão da Ucrânia pela Rússia»3
Disponha sempre!
?assinala a aceitação duvidosa da construção.
1. Construção apresentada por Brito e Raposo in Raposo, Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, p. 1054.
2. Construção apresentada por Brito e Raposo in idem, ibid., p. 1055.
3. Para a síntese aqui apresentada, consultou-se Brito e Raposo in idem, ibid., nomeadamente pp. 1047-1060.