«Espero não perdermos o ônibus»
Gostaria de saber dos especialistas do Ciberdúvidas o que acham quanto à gramaticalidade, adequação e registro da seguinte frase, dita ontem pela minha esposa, que é tcheca, mas fala excelente português: «Espero não perdermos o ônibus.» Não me parecendo tão comum dita construção, creio que usar o subjuntivo aí teria sido mais corriqueiro — «Espero que não percamos o ônibus» —, ou mais popularmente, pelo menos no Brasil, «espero que a gente não perca o ônibus».
Gosto do jeito que ela raciocinou: se o infinitivo (acredito pessoal neste caso) se usa com o verbo esperar quando o sujeito de ambas as orações é o mesmo («espero pegar o ônibus», melhor do que um estranhíssimo e talvez agramatical «espero que eu pegue o ônibus»), não se poderia usá-lo também no referido caso, apenas acrescentando-lhe a marca de primeira pessoa do plural -mos? Daí vieram-me à mente casos, na minha percepção menos freqüentes, como «Creio terem razão» (em vez de «Creio que têm/tenham razão») e por isso acho bem possível que a frase supracitada seja gramatical (e pessoalmente acho-a muito elegante, portanto espero uma resposta positiva da parte do Ciberdúvidas).
Muito obrigado pela ajuda a dirimir esta questão.
O sempre amigo do Ciberdúvidas,
Oração subordinada adverbial condicional e presente do indicativo
Ao folhear um livro de Português (12.º) da nova reforma, deparei-me com o seguinte exemplo de uma oração subordinada adverbial condicional: «Se está a chover, vou de carro.»
Nunca antes tinha visto em qualquer gramática orações condicionais em que ambos os verbos estavam no presente do indicativo. A meu ver, uma oração condicional pressupõe uma dúvida/hipótese, pelo que, se o verbo que precede a conjunção se se encontra no presente do indicativo, constatar-se-á um facto ao invés de se colocar uma hipótese. Esta constatação leva a uma relação causa-efeito e não a uma condição. É a minha dúvida legítima?
A função sintáctica de «mandar recado» numa frase
Na frase «ele ficou encarregado de mandar recado aos colegas», gostaria de saber qual a função sintáctica de «mandar recado». Muito obrigada.
Sobre orações subordinadas e subordinantes
Eu gostava de saber como classificar as orações depois de as separar em oração subordinada e subordinante. E também se se classifica a oração subordinada...
Obrigado.
«Foram eles os vencedores»: frases identificacionais, de novo
Num recinto desportivo, vai proceder-se à entrega de medalhas à equipa que venceu a final e à finalista vencida. As duas equipas, uma constituída apenas por rapazes e a outra apenas por raparigas, encaminham-se para o pódio.
Na bancada, trava-se o seguinte diálogo entre um espectador [E1], muito surdo e muito maçador, que acaba de se sentar, atrasadíssimo, sem ter tido oportunidade de assistir à partida, e um outro [E2], atento, que sabe tudo do torneio porque assistiu às partidas todas:
E1 – Quem são os vencedores, eles ou elas?
E2 – Os vencedores são eles.
E1 – E eles são quem?
E2 – Eles são os vencedores!
E1 – Eles são os vencedores?
E2 – Sim, eles são os vencedores!
E1 – Os vencedores são elas?
E2 – Não, os vencedores são eles!
E1 – Os vencedores são, então, eles…
E2 – Sim, são eles os vencedores! E agora chiu, que vai tocar o hino.
«[…] Em conclusão, sempre que uma frase já contenha um pronome nominativo, então está identificado o sujeito, porque um pronome nominativo substitui unicamente o constituinte que desempenha essa função sintáctica. […]» - Sandra Duarte Tavares, 25/02/2008
Se bem entendo mais este esclarecimento do Ciberdúvidas, que agradeço, o sujeito, em todas as frases do diálogo acima ficcionado, é «eles» ou «elas»; o predicativo do sujeito é sempre «os vencedores». Será assim? Continuo a achar que há por ali sujeitos e nomes predicativos distintos…
Muito obrigado pela atenção dispensada.
«Capitu deixou-se fitar»
Em «Capitu deixou-se fitar», o se é apassivador, ou seja, «Capitu deixou ser fitada»; sujeito do verbo no infinitivo por estar depois do verbo causativo deixar, ou seja, Capitu deixou que ela fosse fitada, ou pronome reflexivo, ou seja, Capitu deixou a si mesma fitar?
Em um livro do professor Ricardo Aquino, brasileiro, este se é reflexivo, mas não vejo assim. O que vocês acham?
Espero resposta com justificativa, por favor. Muito obrigado.
Oração subordinada reduzida de gerúndio
Existe oração subordinada adjetiva reduzida explicativa, ou restritiva?
Como no exemplo: «E os beijos: cometas percorrendo o céu-da-boca.»
Esta oração é subordinada adjetiva explicativa reduzida de gerúndio, ou apenas reduzida de gerúndio?
Ainda «Foram eles os vencedores»
Agradeço a muito circunstanciada explicação, de 06/Fev./2008, à questão que colocara em 29/Jan./2008.Ainda assim, permita-se-me um exercício, relativamente ao qual não fico inteiramente seguro.Suponhamos o seguinte diálogo:
— Quem foram os vencedores, eles ou os outros?
— Foram eles, os vencedores foram eles!
Se não estou equivocado, a frase da resposta — enfática, explicativa, é certo — contém duas orações: 1.ª oração, «Foram eles»; 2.ª oração, «os vencedores foram eles!».
A minha dúvida: é aceitável, se bem entendo a explicação da Dra. Sandra Duarte Tavares, que o sujeito da 1.ª oração seja «eles» (eu sustentaria que o sujeito, subentendido, não é outro senão «os vencedores»), enquanto, na 2.ª, o sujeito é «os vencedores», sendo «eles» nome predicativo do sujeito? Ou será que «eles» é sujeito nas duas orações? Não me parece... Intuitivamente, diria que «eles» constitui nome predicativo do sujeito tanto na 1.ª como na 2.ª oração.
De resto, não veria qualquer diferença de sentido se, naquele diálogo, a resposta, em vez da que foi dada, fosse «Foram eles, foram eles os vencedores!». Do mesmo modo, não veria qualquer alteração nas funções sintácticas dos elementos em presença.
E se, por acaso, os vencedores tivessem sido «os outros»?...
Onde está o vício no meu raciocínio?
Muito obrigado e desculpem a insistência.
A propósito do uso do modo conjuntivo
Parece-me haver uma tendência para deixar de usar o modo conjuntivo, o que seria um empobrecimento para a nossa língua (talvez pior do que a vossa chamada de atenção para a falta de acentuação e má pronúncia na primeira pessoa do plural do pretério perfeito simples). Já tenho chamado a atenção de amigos para tal facto, mas dizem que não notam.
Será real o facto que refiro?
Alguns exemplos:
a) «Mas a ERSE admite que esse estudo [ou outra coisa qualquer] pode aumentar os custos...»;
b) relações de igualdade (entre europeus e africanos) não quer dizer que as contribuições de cada um podem ser iguais...» (a propósito da cimeira UE-África);
c) «Agora, o que é irónico é que este "falso" plural é também designado nos prontuários por "plural de modéstia" — o que prova que nem a terminologia gramatical é imune a manipulações ideológicas» (Vossa pelourinho Nós, vós, ele e artigo publicado no semanário Sol, de 29 de Dezembro de 2007).
Então, não deveria ser "possa", "possam" (aliás, "tenham") e "seja", respectivamente?
Obrigado.
As orações reduzidas de particípio e a norma culta
Na frase «O projeto de Convenção foi oportunamente submetido ao Presidente da República, que o aprovou, consultadas as áreas envolvidas na elaboração do texto legal», ainda que esteja correta, não estaria mais adequada à norma culta a colocação da reduzida de particípio «consultadas» no início da frase? Agradeço-lhes a ajuda.
