A frase que a sua mulher construiu é perfeitamente gramatical em português europeu, uma vez que o verbo esperar pode seleccionar tanto uma oração finita com o verbo no conjuntivo como uma oração não finita de infinitivo, quando o sujeito da oração subordinante e o sujeito da subordinada não são correferentes. É o caso da frase em apreço: o sujeito da oração subordinante é «eu» (subentendido), e o da subordinada, «nós» (também subentendido). São, portanto, equivalentes e correctas as seguintes frases:
(1) «Espero que não percamos o ônibus.»
(2) «Espero não perdermos o ônibus.»
Geralmente, os verbos que têm por complemento uma oração substantiva completiva finita são compatíveis com uma estrutura oracional não finita com o verbo no infinitivo; por exemplo (cf. Maria Helena Mateus et alii, Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa: Editorial Caminho, 2003, pág. 599):
— verbos epistémicos (acreditar, pensar, saber, etc.), declarativos (afirmar, dizer, prometer, etc.) e perceptivos (ouvir, sentir, ver);
— verbos psicológicos (gostar, desejar, esperar).
N. E. (6/1/2017) – A forma ônibus (no Brasil)/ónibus (em Portugal e nos PALOP e Timor-Leste) corresponde a uma palavra esdrúxula, ou seja, a uma palavra que tem acento tónico na antepenúltima sílaba. A relação entre ônibus e omnibus explica-se pelo facto de o elemento de composição omni-, que se conserva no português de Portugal (omnipotente, omnisciente), passar a oni- na variedade brasileira (onisciente, onipotente). Outro caso em que, no português do Brasil, a sequência -mn- passa a -n- é o de anistia, que em Portugal é sempre amnistia (ler aqui).
Cf. Diferenças lexicais entre duas variedades da língua portuguesa