«Fique o mundo sabendo que Colombo foi feliz não quando descobriu a América, mas sim quando a estava por descobrir. Em verdade afirmo que o trecho mais alto da sua felicidade foram aqueles três dias antes da descoberta do Novo Mundo, quando a equipagem amotinada e desiludida esteve a ponto de aproar de volta para a Europa. Não era o Novo Mundo que importava, mesmo que, de tão real, lhe caísse ombros abaixo» (Excerto de O Idiota).
No final desse trecho, há um período cuja análise sintática me traz dúvidas. Veja-se:
«Não era o Novo Mundo que importava, mesmo que, de tão real, lhe caísse ombros abaixo.»
Oração principal: «Não era o Novo Mundo que importava»
Oração subordinada adverbial concessiva: «mesmo que lhe caísse ombros abaixo»
E quanto a «de tão real», que, na verdade, é «de tão real(que era)»? O que dizer dela? Parece-me que tal oração funciona como principal em relação a «mesmo que lhe caísse ombros abaixo», o que levaria esta a ser simultaneamente concessiva e consecutiva. Para ilustrar dou um exemplo de oração consecutiva semelhante: «A cena era tão real, que ela se quedou emocionada.»
Pergunto: é possível tal análise?
Outra possibilidade que me ocorre é tratar-se de oração explicativa: «mesmo que lhe caísse ombros abaixo, de tão real que era» («tão real ela era», «pois tão real ela era»).
Obrigado.
Como classifico o sujeito de uma frase quando este é um verbo, como, por exemplo, «Errar é humano»? É sujeito simples, ou nulo?
Gostaria de saber o significado dos seguintes provérbios:
«Ano de ameixas, ano de queixas.»
«A campo fraco, lavrador forte.»
«Mais vale lavrar o nosso ao longe que o alheio perto.»
«A boa fazenda nunca fica por vender.»
«Cada um colhe segundo semeia.»
Gostaria de saber se ambas as sentenças que se seguem — «o João pediu para eu fazer» ou «o João pediu para mim fazer» — estão corretas.
Muito agradecia o favor de me explicarem se se deve dizer «podemos combinar encontrar-nos», ou «podemos combinar encontrarmo-nos».
Muito grata pela atenção que se dignarem dispensar.
Queria saber se na seguinte frase podemos, de facto, usar a forma contraída dum ou se temos de usar a expressão de um: «Preciso dum favor teu.»
Queria saber se a frase «Foi assim que sempre se fez a literatura» está na voz passiva, já que o verbo principal não está no particípio passado.
A frase «Como observa-se na figura x» está correcta?
Ou devia ser «Como se observa na figura x»?
Que significa, afinal, manter?
Estaria eu, no entanto, a perguntar isso exactamente por quê? Vejam:
Erro crasso, o verbo manter utilizado no sentido de exactamente inverso ao da ideia original. Não se “mante” uma moça, senhora, etc. para ser esposa de um homem: arranja-se. Quando se "mante" ela fica em bom estado; conservada. No sentido de «contrair uma relação conjugal», «arranjar marido ou mulher», prefira-se, por exemplo, os verbos casar; arranjar.
Os moçambicanos e os santomenses, os quais nós, angolanos, deveríamos seguir, não o usam (o verbo manter, evidentemente) quando é p. ex., para significar de «contrair uma relação conjugal», «arranjar marido ou mulher», mas casar, já que se significa ligar pelo casamento. Ou, ainda, como verbo intransitivo e verbo reflexivo «unir-se pelo casamento».
Não sei onde é que os angolanos foram achar que manter é verbo que significa «contrair uma relação conjugal», «arranjar marido ou mulher». Nunca, em tempo algum, manter foi verbo que significou «contrair uma relação conjugal», «arranjar marido ou mulher». Nem agora nem na época de Camões. Sempre significou: «sustentar; conservar; comprimir; segurar». Assim, por exemplo: «Se eu mantiver alguma esperança», «Mantenha-me conectado», «Manter o controlo», «Mantenha o timbre fechado do o no plural dessa palavra». Sempre sem o significado de «contrair uma relação conjugal», «arranjar marido ou mulher». De uns tempos para cá, no entanto, «a maior parte dos angolanos» achou de usar esse verbo com significado de «contrair uma relação conjugal», «arranjar marido ou mulher». Não o usam quando é para usar (p. ex., com o significado de «sustentar; conservar: manter na prisão, manter em bom estado. Prover do que é necessário à subsistência; comprimir; observar: manter a palavra, o compromisso»), mas empregam-no sem nenhum constrangimento onde essa classe de verbo não tem nenhum cabimento.
Assim, é comum ouvirmos frases como esta, principalmente nos pedidos (alembamentos):
Tia: «Nunca mais te vi. Pensei que já "manteste"!»
Uma das sobrinhas: «Adivinhaste. Ela já "manteu" mesmo.» (Edno Pimentel in jornal Nova Gazeta).
«Ela ainda não "manteu". Porque é "menora" de 18 anos.»
Frases com o verbo manter:
«Fico muito agradecido pela prontidão de me "manter" sempre informado!»
«Muito obrigado pela mensagem! Espero que "mantenhamos" o contacto.»
«A nossa juventude nunca agiu à margem do povo, é do povo e trabalhou sempre para o povo. É preciso "manter" essa rica tradição, que vem dos nossos antepassados!» ((José Carlos de Almeida, ENSABOADO & ENXAGUADO — Língua Portuguesa e Etiqueta)
«Se A é o sucesso, então A é igual a X mais Y mais Z. O trabalho é X; Y é o lazer; e Z é "manter" a boca fechada.» (José Eduardo dos Santos)
«As mulheres podem tornar-se facilmente amigas de um homem; mas, para "manter" essa amizade, torna-se indispensável o concurso de uma pequena antipatia física.» (Albert Einstein)
Exemplos com o verbo manter na imprensa:
«Homem da comunicação e activista social, Siona Casimiro Júnior esteve sempre preocupado com o número de crianças que deambulava pela sua rua. Depois de algum tempo de observação, sobre o que fazer para as "manter" ocupadas, em 2004, resolveu reuni-las. Começou por dar aulas no que é hoje conhecido por Centro de Alfabetização "Kudilonga". No início, agrupou 15 crianças, contando com a ajuda de dois professores voluntários. (Edno Pimentel, in jornal Nova Gazeta 19/ 07/2012)
Gostaria, por isso, que os senhores consultores incluíssem uma pequena abordadagem, ainda que breve sobre o verbo manter.
Gostaria de obter informações da estrutura de um memorando de reunião.
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