Sara de Almeida Leite - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara de Almeida Leite
Sara de Almeida Leite
24K

Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Português e Inglês, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa; mestre em Estudos Anglo-Portugueses; doutorada em Estudos Portugueses, especialidade de Ensino do Português; docente do ensino superior politécnico; colaboradora dos programas da RDP Páginas de Português (Antena 2) e Língua de Todos (RDP África). Autora, entre outras obras, do livro Indicações Práticas para a Organização e Apresentação de Trabalhos Escritos e Comunicações Orais ;e coautora dos livros SOS Língua Portuguesa, Quem Tem Medo da Língua Portuguesa, Gramática Descomplicada e Pares Difíceis da Língua Portuguesa e Mais Pares Difíceis da Língua Portuguesa.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Como se escreve/traduz a palavra inglesa indent, ou seja, como se designa a acção de afastar o texto da margem esquerda quando se pretende enumerar ou criar pontos chaves de um determinado assunto?

Resposta:

O termo inglês indent significa «talhar, recortar de forma irregular, ziguezaguear» e também se aplica à acção de abrir um espaço maior no início de uma linha, em relação à margem normal de um texto, como costumamos fazer na primeira linha de cada parágrafo.

Está atestado em português o termo indentar, que significa precisamente «afastar (texto) em relação à margem», conforme esclarece o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, versão em linha.

Pergunta:

É correcto utilizar a palavra envolvente para qualificar uma pessoa? Pretende-se traduzir o inglês compelling.

Resposta:

O adjectivo inglês compelling designa alguém ou alguma coisa que exerce força, poder ou influência sobre outrem, podendo qualificar algo ou alguém que suscita atenção, admiração ou respeito, por causa dessa qualidade.

Nesse sentido, o significado de compelling está próximo de envolvente. Assim, uma frase como «He is a very compelling person» poderia ser traduzida como «Ele é uma pessoa muito envolvente».

Pergunta:

Esta questão divide-se em duas partes.

Primeiro, gostaria de saber se existe uma forma portuguesa da palavra inglesa Wyvern (criatura alada muito usada na heráldica). Até hoje, não encontrei uma tradução portuguesa desta palavra e a tradução em língua mais próxima que encontrei foi uma espanhola, traduzindo para serpente alada, que não me parece que descreva correctamente a criatura.

Em segundo lugar, gostaria de tentar descobrir se existem, em português, nomes distintos para as várias criaturas comummente traduzidos como duendes. Sobre esta designação, já encontrei uma enorme diversidade de criaturas mitológicas, de leprechauns a trolls, passando por goblins e dwarfs/dwarves, todas elas bastante diversas em tamanho e aspecto. Haverá maneiras de as distinguir em português, ou é aceitável, no caso de não haver tradução directa, usar os termos ingleses (ou das suas respectivas línguas de origem)?

Resposta:

Sendo as criaturas de que fala pertencentes à mitologia nórdica em geral e anglo-saxónica em particular, é natural que não existam nomes para elas em português e que, ao referirem-se a esses conceitos, os falantes de português empreguem os termos estrangeiros (como troll e goblin) ou procedam ao seu aportuguesamento, como acontece com elfo. São poucos os termos que surgiram na língua portuguesa por vias mais “tradicionais”, como duende (do castelhano) e fada (do latim).

Permita-me comparar este tipo de vocabulário com as centenas de palavras diferentes que os esquimós usam para se referirem aos diversos tipos de neve, que, na nossa língua, por razões óbvias, não têm tradução.

Concluindo, se não foi lexicalizada na nossa língua a palavra que traduz um desses conceitos, é legítimo usar o termo original, grafando-o entre aspas ou em itálico.

Pergunta:

Tenho andado, nos últimos dias, em busca de uma palavra que passasse o significado desta palavra inglesa. Os dois termos que me saltam logo à cabeça, dardo e azagaia, já têm significados muito marcados na nossa língua, o primeiro com o popular jogo de café, e o segundo como arma tipicamente africana.

O que eu pretendia era algo que estivesse mais associado com a forma europeia da arma, como a palavra espanhola venablo.

Resposta:

De facto, dardo e azagaia (ou zagaia) são os termos usados em português para traduzir javelin. Como notou, dardo leva-nos a pensar nas pequenas setas que se atiram ao alvo. Quanto à azagaia, ou zagaia, sendo uma «lança de arremesso, constituída por uma haste de madeira, com uma ponta de ferro» (Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, versão em linha), pode ser tipicamente africana, mas não o é necessariamente. E, tanto quanto pude apurar, não existem alternativas em português.

Pergunta:

Gostaria de saber qual a melhor forma para traduzir tightness, depth and resiliency. Talvez "apertura", "profundidade" e "resistência"? Tenho dúvidas quanto à palavra "apertura". Será que traduz a qualidade do que é apertado?

Resposta:

Os termos que refere utilizam-se na área dos mercados financeiros. Nesse domínio, os seus significados em inglês serão os seguintes:

tightness — consiste na diferença entre o preço de transacção e o preço médio de um produto financeiro (diferença entre o valor da compra e o valor da venda). Não considero lícito usar o neologismo “apertura”, embora não saiba da existência de uma palavra alternativa para designar, em português, este conceito.

depth — pode traduzir-se por profundidade do mercado. É a lista de compradores e vendedores, ordenada por preço, onde são apresentados os melhores compradores e vendedores disponíveis no mercado num determinado momento. Refere-se, também, ao volume de transacções que é possível fazer sem alterar os preços do mercado.

resilience — é lícito empregar o termo resiliência. Corresponde à velocidade a que os desequilíbrios são absorvidos pelo mercado, ou seja, a rapidez com que o mercado volta às condições normais (por exemplo no que respeita à diferença entre os valores de venda e compra de produtos financeiros), após as transacções.

Fonte: Jeppe Ladekarl, Development of equity markets, Financial Sector Department, The World Bank.