Sara Leite - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Leite
Sara Leite
22K

Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Português e Inglês, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa; mestre em Estudos Anglo-Portugueses; doutorada em Estudos Portugueses, especialidade de Ensino do Português; docente do ensino superior politécnico; colaboradora dos programas da RDP Páginas de Português (Antena 2) e Língua de Todos (RDP África). Autora, entre outras obras, do livro Indicações Práticas para a Organização e Apresentação de Trabalhos Escritos e Comunicações Orais ;e coautora dos livros SOS Língua Portuguesa, Quem Tem Medo da Língua Portuguesa, Gramática Descomplicada e Pares Difíceis da Língua Portuguesa e Mais Pares Difíceis da Língua Portuguesa.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Qual é a melhor tradução para o português de hacker e de cracker?

Resposta:

Os termos hacker e cracker, no âmbito da informática, têm significados muito próximos. Ambos designam pessoas (ou programas informáticos) capazes de aceder a computadores supostamente protegidos contra essas investidas. E permito-me citar este excelente esclarecimento prestado no Orkut:

Originalmente, e para certos programadores, hackers (singular: hacker) são indivíduos que elaboram e modificam software e hardware de computadores, seja desenvolvendo funcionalidades novas, seja adaptando as antigas.

Originário do inglês, o termo hacker é utilizado no português. Os hackers utilizam todo o seu conhecimento para melhorar softwares de forma legal. Eles geralmente são de classe média ou alta, com idade de 12 a 28 anos. Além de a maioria dos hackers serem usuários avançados de software livre como os BSD Unix (Berkeley Software Distribution) e o GNU/Linux [carece de fontes]. A verdadeira expressão para invasores de computadores é denominada cracker, e o termo designa programadores maliciosos e ciberpiratas que agem com o intuito de violar ilegal ou imoralmente sistemas cibernéticos.1

No Brasil, tem-se empregado, como podemos verificar pelo texto acima, o termo ciberpirata. Em Portugal, o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa sugere a expressão pirata informático.2 Porém, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, disponível em linha na

Pergunta:

Na proposição seguinte deve usar-se nota-se, ou denota-se: «o conjunto de todos os pontos com esta característica denomina-se conjunto estável de p e nota-se por Wp»?

Resposta:

Denota-se é o verbo que deve utilizar nesse contexto, ou seja, no âmbito da matemática.

O seu significado na frase que apresenta é o mesmo que «representa-se» («esta característica denomina-se conjunto estável de p e representa-se por W{#p|}»), pois denotar significa «representar», no sentido em que determinado símbolo ou ícone é usado para significar um dado conceito ou ideia.

Isto não impede, porém, que se fale de notação, também no âmbito da matemática, que diz respeito à correspondência entre conceitos e designações (símbolos ou palavras).

Pergunta:

Eu gostava de saber qual a diferença entre regulamento e norma, isto é, se existir. Ou têm ambas o mesmo significado?

Resposta:

Regulamento e norma podem ser empregados como sinónimos, como nos informa, por exemplo, o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, no sentido em que ambos os termos podem designar uma «instrução que prescreve o que deve ser feito.»

 

Contudo, se entendermos o regulamento como o «acto ou efeito de regular, de estabelecer regras», então este pode englobar um conjunto de disposições, adquirindo, portanto, um carácter mais geral, de conjunto, cujas partes serão as normas propriamente ditas, enquanto cada uma dessas prescrições.

Pergunta:

Twitter e facebook.

Ainda não consegui compreender bem o significado das palavras acima referidas. Poderão esclarecer-me?

Muito obrigada.

Resposta:

O termo facebook designa uma publicação editada por uma instituição, como uma empresa ou uma escola, cujo objectivo é apresentar uma lista dos seus membros em que figura a fotografia de cada um, de modo que estes possam ser facilmente identificados. Em formato digital, um facebook pode ser uma espécie de base de dados com os perfis de membros ou utilizadores, que apresenta as suas fotografias e os seus dados pessoais.

Quanto a twitter, a palavra tem diversos significados distintos em inglês, dependendo do contexto: tanto pode significar «chilrear» ou o «chilreio de um pássaro», como «excitação», «alvoroço», ou ainda «tagarelar» e «tagarelice». No entanto, e considerando a provável relação com o facebook, twitter designa, mais recentemente, uma rede virtual que permite aos utilizadores actualizarem os seus perfis por meio de mensagens curtas por diversas vias, incluindo as mensagens electrónicas e os telemóveis.

Na Wikipédia e noutros endereços na Internet, a consulente encontrará mais pormenores e ligações úteis a este respeito.

N.E. – Outros pormenores aqui e

Pergunta:

Gostaria, se possível fosse, de tirar uma dúvida sobre aportuguesamento de palavras anglo-saxônicas.

Estava escrevendo um texto em site de relacionamento pessoal e fui criticado por utilizar a palavra "góspeis" ao invés de gospel. No meu texto continha: «... as cantoras góspeis...»

A crítica dizia que eu não poderia utilizar a palavra no plural porque não era uma palavra portuguesa, porém inglesa. E, no inglês, os adjetivos não vão para o plural. Ficaria assim: «... the gospel singers...»

Fiz uma argumentação defendendo que havia utilizado a palavra aportuguesada. Daí, o meu crítico interlocutor disse que a palavra ainda não havia sido aportuguesada. Ao que repliquei-lhe que havia palavras que ainda não constavam nos dicionários, mas que podiam ser aportuguesadas. E que, como não havia achado uma palavra em português equivalente e propícia ao contexto do meu texto, havia recorrido ao aportuguesamento. Visto que a palavra evangélica — equivalente comum da palavra gospel — não me servia porque estava, na verdade, criticando as cantoras "góspeis". O "góspeis" seria, então, em tom de ironia. De fato, eu não considero tais cantoras como evangélicas.

Afinal de contas, quem está com a razão?

Aguardo a resposta.

Resposta:

O consulente tem razão quando alega que nem todas as palavras que utilizamos (sejam aportuguesamentos de termos estrangeiros ou neologismos) constam dos dicionários, pois estes, por razões óbvias, estão sempre um pouco atrasados em relação ao uso dos falantes.

Acontece, porém, que a palavra inglesa gospel já foi aportuguesada e consta, na base de dados morfológica do ILTEC (de Portugal) com o singular gospel (sem acento gráfico) e o plural gospéis (com acento agudo no e).

Esta foi a única base de dados que encontrei com referência à flexão do adjectivo em número.

Ora, sendo assim, parece que o único "erro" do consulente foi ter colocado o acento agudo sobre o o de "góspeis". Contudo, parece-me lógico pronunciar a palavra com a tónica na primeira sílaba, em conformidade com a pronúncia do adjectivo inglês gospel. É mais natural, tanto para um português como para um brasileiro, no meu entender, dizer "góspeis" do que "gospéis". Isto pressuporia, então, o singular "góspel", que, embora não esteja atestado, é mais fiel à posição do acento em inglês e está de acordo com as nossas regras de acentuação gráfica, que obrigam a colocar acento agudo ou circunflexo nas palavras graves terminadas em -l (como móvel, móbil e cônsul).