Pergunta:
Gostaria, se possível fosse, de tirar uma dúvida sobre aportuguesamento de palavras anglo-saxônicas.
Estava escrevendo um texto em site de relacionamento pessoal e fui criticado por utilizar a palavra "góspeis" ao invés de gospel. No meu texto continha: «... as cantoras góspeis...»
A crítica dizia que eu não poderia utilizar a palavra no plural porque não era uma palavra portuguesa, porém inglesa. E, no inglês, os adjetivos não vão para o plural. Ficaria assim: «... the gospel singers...»
Fiz uma argumentação defendendo que havia utilizado a palavra aportuguesada. Daí, o meu crítico interlocutor disse que a palavra ainda não havia sido aportuguesada. Ao que repliquei-lhe que havia palavras que ainda não constavam nos dicionários, mas que podiam ser aportuguesadas. E que, como não havia achado uma palavra em português equivalente e propícia ao contexto do meu texto, havia recorrido ao aportuguesamento. Visto que a palavra evangélica — equivalente comum da palavra gospel — não me servia porque estava, na verdade, criticando as cantoras "góspeis". O "góspeis" seria, então, em tom de ironia. De fato, eu não considero tais cantoras como evangélicas.
Afinal de contas, quem está com a razão?
Aguardo a resposta.
Resposta:
O consulente tem razão quando alega que nem todas as palavras que utilizamos (sejam aportuguesamentos de termos estrangeiros ou neologismos) constam dos dicionários, pois estes, por razões óbvias, estão sempre um pouco atrasados em relação ao uso dos falantes.
Acontece, porém, que a palavra inglesa gospel já foi aportuguesada e consta, na base de dados morfológica do ILTEC (de Portugal) com o singular gospel (sem acento gráfico) e o plural gospéis (com acento agudo no e).
Esta foi a única base de dados que encontrei com referência à flexão do adjectivo em número.
Ora, sendo assim, parece que o único "erro" do consulente foi ter colocado o acento agudo sobre o o de "góspeis". Contudo, parece-me lógico pronunciar a palavra com a tónica na primeira sílaba, em conformidade com a pronúncia do adjectivo inglês gospel. É mais natural, tanto para um português como para um brasileiro, no meu entender, dizer "góspeis" do que "gospéis". Isto pressuporia, então, o singular "góspel", que, embora não esteja atestado, é mais fiel à posição do acento em inglês e está de acordo com as nossas regras de acentuação gráfica, que obrigam a colocar acento agudo ou circunflexo nas palavras graves terminadas em -l (como móvel, móbil e cônsul).