Sandra Duarte Tavares - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sandra Duarte Tavares
Sandra Duarte Tavares
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É mestre em Linguística Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. É professora no Instituto Superior de Comunicação Empresarial. É formadora do Centro de Formação da RTP e  participante em três rubricas de língua oortuguesa: Agora, o Português (RTP 1), Jogo da Língua  e Na Ponta da Língua (Antena 1). Assegura ainda uma coluna  mensal  na edição digital da revista Visão. Autora ou coa-autora dos livros Falar bem, Escrever melhor e 500 Erros mais Comuns da Língua Portuguesa e coautora dos livros Gramática Descomplicada, Pares Difíceis da Língua Portuguesa, Pontapés na Gramática, Assim é que é Falar!SOS da Língua PortuguesaQuem Tem Medo da Língua Portuguesa? Mais Pares Difíceis da Língua Portuguesa e de um manual escolar de Português: Ás das Letras 5. Mais informação aqui.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Qual é a frase preferível: «o João nasceu no mesmo ano que o Miguel», ou «o João nasceu no mesmo ano em que o Miguel», ou «o João nasceu no mesmo ano do Miguel»?

Resposta:

Há três possibilidades:

a) «O João nasceu no mesmo ano que o Miguel.»1

b) «O João nasceu no mesmo ano do Miguel.»2

c) «O João nasceu no mesmo ano em que o Miguel nasceu.» (Neste caso, devemos repetir a forma verbal.)

Por conseguinte, a estrutura com «em que» só com a presença do verbo na oração subordinada é legítima.

1 Augusto Epiphanio da Silva Dias, na Syntaxe Historica Portuguesa (Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1933, pág. 168), observa (ortografia conforme o original):

«Quando a um substantivo acompanhado do pron. mesmo e precedido de prepos. se liga uma or. relativa de que, que tem o mesmo sujeito, ou mesmo predicado, costuma omittir-se a prepos. antes do relativo: a memoria das quaes... parece... na mesma hora que sam lidas ([Damião de ] Goes [...]).»

2 A expressão «no mesmo ano do Miguel» comporta-se como uma estrutura de posse, tal como em «no curso do Miguel».

Pergunta:

Na frase «Tal pai, tal filho», como classificar morfologicamente tal? Determinante demonstrativo? Locução conjuncional comparativa? Determinante indefinido?

Agradeço os vossos esclarecimentos.

Resposta:

Na frase que apresenta, a palavra tal é um determinante demonstrativo.

É um determinante, porque antecede um nome, concordando com este em número: «Tais pais, tais filhos.»

É um demonstrativo, pois contribui para a construção da referência dos nomes pai e filho, situando-os no espaço ou no tempo em relação ao participante do discurso. 

Pode, por isso, ser substituído por outros elementos dessa subclasse: «Esse pai, esse filho»; «o mesmo pai, o mesmo filho».

Disponha sempre!

Pergunta:

Que palavra empregar — "corrosividade", ou "corrosibilidade" — na frase: «Os cabos OPGW são utilizados em linhas eléctricas aéreas estabelecidas em atmosferas de categoria de corrosividade C3, de acordo com a norma xxxxx»?

Resposta:

Estas palavras têm significados muito semelhantes:

corrosividade: «qualidade do que é corrosivo»;

corrosibilidade: «qualidade do que é corrosível».

Diferem, porém, no seu tempo/modo internos. Ou seja:

Corrosividade expressa um valor mais factual: designa a qualidade de alguma coisa que é efectivamente corrosiva (como se associássemos o modo indicativo a esta palavra).

Corrosibilidade expressa um valor menos factual: designa a possibilidade de alguma coisa vir a ser corroída (como se lhe associássemos o modo conjuntivo).

Posto isto, considero que o termo corrosividade é o mais adequado na frase que apresenta, dado o seu valor semântico menos hipotético.

Pergunta:

É correcto escrever: «Obrigado por nos fazer parte da sua família»?

Resposta:

Do ponto de vista sintáctico, a estrutura não é correcta, uma vez que a expressão «fazer parte de» não legitima a presença do pronome pessoal nos.

Duas propostas:

1 – «Obrigado por fazermos parte da sua família.»

2 – «Obrigado por nos incluir na sua família.»

Pergunta:

Qual é o plural de sabão?

Resposta:

O plural de sabão é sabões.

Os substantivos que em português antigo acabavam em -om no singular acabam hoje em -ão no singular e fazem o plural em -ões; p. ex.: patrom > patrão, patrões; botom > botão, botões. É o caso de sabão, palavra com a seguinte etimologia (Dicionário Houaiss):

«lat[im]imp[erial] sapō, ōnis 'id.' e, este, do germ[ânico] *saipo- (al. seife, ingl. soap) [...]; f[ormas] hist[óricas sXIV sabon, sXV sabão, sXVI xabão [...].»

Existe também um homónimo, sabão (idem), aumentativo de sábio, com o mesmo plural, porque o sufixo aumentativo -ão tinha a forma -om na Idade Média (cf. sabichão/sabichões, rapagão/rapagões).