Sandra Duarte Tavares - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sandra Duarte Tavares
Sandra Duarte Tavares
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É mestre em Linguística Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. É professora no Instituto Superior de Comunicação Empresarial. É formadora do Centro de Formação da RTP e  participante em três rubricas de língua oortuguesa: Agora, o Português (RTP 1), Jogo da Língua  e Na Ponta da Língua (Antena 1). Assegura ainda uma coluna  mensal  na edição digital da revista Visão. Autora ou coa-autora dos livros Falar bem, Escrever melhor e 500 Erros mais Comuns da Língua Portuguesa e coautora dos livros Gramática Descomplicada, Pares Difíceis da Língua Portuguesa, Pontapés na Gramática, Assim é que é Falar!SOS da Língua PortuguesaQuem Tem Medo da Língua Portuguesa? Mais Pares Difíceis da Língua Portuguesa e de um manual escolar de Português: Ás das Letras 5. Mais informação aqui.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Assunto: Resposta de Sandra Duarte Tavares, 28/10/2011.

Comentário: Embora o período seja simples, sendo, portanto, absoluta, a oração (assim fica tudo mais claro, porque, frase, ninguém sabe muito bem o que é), aquele logo pressupõe algo que desencadeou o acontecimento declarado e modifica toda a oração e não apenas o predicado. É, portanto, uma verdadeira conjunção. A dúvida da pergunta e o erro da resposta radicam numa inversão de valor: são a intencionalidade do comunicador e o contexto que determinam a pontuação, e não o contrário...

Resposta:

Admitindo a existência de ambiguidade na frase apresentada pela consulente, é possível atribuir à palavra logo as duas categorias gramaticais: conjunção ou advérbio.

1.ª leitura: logo (advérbio)

1) «A proclamação propagou-se logo por todo o reino.»

2.ª leitura: logo (conjunção)

2) «[Oração subordinante ausente], logo, se propagou por todo o reino a proclamação.»

Do meu ponto de vista, a leitura menos imediata é a 2.ª, uma vez que o clítico -se se encontra em posição de próclise, e a palavra logo, enquanto conjunção, não é desencadeadora de próclise:

3) «O microfone deixou de funcionar, logo, arranjou-se forma de o substituir.»

Pergunta:

Escreve-se «jantar convívio», ou jantar-convívio?

Resposta:

Apesar de a maioria dos dicionários não atestar a palavra composta jantar-convívio, a mesma deve, do meu ponto de vista, ser grafada com hífen, uma vez que se trata de uma sequência nome-nome, sem a presença de um elemento de ligação.

Pergunta:

Na frase «Neva na serra da Estrela», que função sintática desempenha «na serra da Estrela»?

Resposta:

O sintagma preposicional «na serra da Estrela» não é argumento do verbo nevar, pelo que desempenha a função sintática de modificador verbal.

De acordo com o Dicionário Terminológico, o modificador é a «função sintática desempenhada por constituintes não selecionados por nenhum elemento do grupo sintático de que fazem parte. Por não serem selecionados, a sua omissão geralmente não afeta a gramaticalidade de uma frase».

Os verbos meteorológicos são verbos impessoais e, por isso, não necessitam da presença de nenhum argumento sintático:

1) a. «Choveu durante toda a noite em Lisboa.»

     b. «Choveu.«

2) a. «Nevou na serra da Estrela.»

     b. «Nevou.»

Pergunta:

Gostaria de tirar a seguinte dúvida:

Como devemos escrever o verbo encontrar neste caso: «Não encontrámos as bolachas», ou «Não encontramos as bolachas», sendo que queremos dar o sentido de que estamos à procura, mas não estamos a conseguir encontrar?

A acção é considerada passada ou presente conforme a intenção de continuar a procurar, ou não?

Resposta:

Pela situação que descreve, a ação é presente, e não passada, pelo que deverá escrever encontramos, sem acento gráfico.

Pergunta:

Escreve-se subadquirente, ou sub-adquirente?

Resposta:

Escreve-se aglutinadamente: subadquirente.

O radical sub- associa-se à palavra seguinte por hífen apenas se dessa aglutinação resultar uma leitura indesejada, perdendo-se a autonomia fonética da palavra-base, por exemplo, na palavra sub-reptício.

Caso contrário, aglutina-se sempre à palavra principal: subarrendar, subdiretor, etc.