Um texto de Sandra Duarte Tavares, ainda à volta da (errada) utilização do verbo abusar na voz passiva, nos media portugueses.
É mestre em Linguística Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. É professora no Instituto Superior de Comunicação Empresarial. É formadora do Centro de Formação da RTP e participante em três rubricas de língua oortuguesa: Agora, o Português (RTP 1), Jogo da Língua e Na Ponta da Língua (Antena 1). Assegura ainda uma coluna mensal na edição digital da revista Visão. Autora ou coa-autora dos livros Falar bem, Escrever melhor e 500 Erros mais Comuns da Língua Portuguesa e coautora dos livros Gramática Descomplicada, Pares Difíceis da Língua Portuguesa, Pontapés na Gramática, Assim é que é Falar!, SOS da Língua Portuguesa, Quem Tem Medo da Língua Portuguesa? Mais Pares Difíceis da Língua Portuguesa e de um manual escolar de Português: Ás das Letras 5. Mais informação aqui.
Um texto de Sandra Duarte Tavares, ainda à volta da (errada) utilização do verbo abusar na voz passiva, nos media portugueses.
Gostaria que me explicassem a razão para a coexistência de duas formas (barriga de freira e barriga-de-freira) conforme se trate de um nome de doce ou de um nome de planta.
A coexistência de duas grafias é explicada por duas regras ortográficas distintas (Base XV: Do hífen em compostos, locuções e encadeamentos vocabulares):
1.ª Não se usa hífen nas palavras compostas que contêm um elemento de ligação: fim de semana, mão de obra, caminho de ferro, lua de mel, etc.
Assim, a palavra composta barriga de freira (nome de doce) é regida por esta primeira regra.
2.ª Usa-se hífen nas palavras compostas que designam espécies na área da botânica e da zoologia, ligadas ou não por preposição: couve-flor, abóbora-menina, brincos-de-princesa, estrela-do-mar, etc.
Assim, a palavra composta barriga-de-freira (nome de planta) é regida por esta segunda regra.
Sobre o esclarecimento 24 344, na frase «Existem velhas parábolas chinesas sobre tudo, e as que não existem a gente inventa» sobre a qual é pedido um esclarecimento, consideram que as é um pronome demonstrativo porque pode ser substituído por aquelas. No entanto, também pode estar a substituir a palavra parábola, num mecanismo de coesão textual. Então, por que razão considerá-lo um pronome demonstrativo e não um pronome pessoal? Afinal, o, a, os, as são pronomes pessoais? São demonstrativos? Será que só é demonstrativo o pronome o quando antecede o relativo que («Sei o que pensas») ou antecede/segue um verbo («O João disse-o») e pode ser substituído por isso/aquilo?
A palavra as (neste contexto) não é um pronome pessoal, porque os pronomes pessoais acusativos -o, -a, -os, -as desempenham apenas a função sintática de complemento direto:
a) «Eu conheço as parábolas chinesas.»
b) «Eu conheço-as.»
Trata-se inequivocamente de um pronome demonstrativo, que substitui o nome parábolas e constitui o antecedente do relativo que, o qual desempenha a função de sujeito do verbo existir.
O, a, os, as são pronomes demonstrativos (formas átonas) quando surgem na frase antes de que ou de, ou ainda adjacentes ao verbo.
Celso Cunha e Lindley Cintra dizem o seguinte, na pág. 340 da sua Nova Gramática do Português Contemporâneo:
O demonstrativo o (a, as, os) é sempre um pronome substantivo e emprega-se nos seguintes casos:
a) quando vem det...
Gostaria que me esclarecessem se devemos considerar o complemento determinativo nas frases «O avô recorda os seus tempos de meninice» como parte do predicado e «O livro de ciências é interessante» como pertencendo ao sujeito, ou se, à semelhança dos complementos circunstanciais, não integra.
Sim, ambos os complementos determinativos, também designados modificadores restritivos, integram o predicado e o sujeito, respetivamente. Eles são sempre parte de constituintes maiores.
Na frase «O avô recorda os seus tempos de meninice», o complemento determinativo «de meninice» faz parte do complemento direto, logo, faz parte do predicado.
Podemos comprovar esta afirmação através da substituição de todo o sintagma nominal por um pronome pessoal na forma acusativa:
a) «O avô recorda-os.»
b) «O que é que o avô recorda?» [Os seus tempos de meninice.]
Também na frase «O livro de ciências é interessante», o complemento determinativo «de ciências» faz parte do sujeito da frase. Do mesmo modo, podemos substituir todo o sintagma nominal por um pronome pessoal na forma nominativa:
c) «Ele é interessante.»
d) «O que é interessante?» [O livro de ciências.]
Qual é o plural de «lápis de cor»?
O plural é «lápis de cor», igual ao singular:
a) «Perdi um lápis de cor.»
b) «Perdi vários lápis de cor.»
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