Sandra Duarte Tavares - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sandra Duarte Tavares
Sandra Duarte Tavares
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É mestre em Linguística Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. É professora no Instituto Superior de Comunicação Empresarial. É formadora do Centro de Formação da RTP e  participante em três rubricas de língua oortuguesa: Agora, o Português (RTP 1), Jogo da Língua  e Na Ponta da Língua (Antena 1). Assegura ainda uma coluna  mensal  na edição digital da revista Visão. Autora ou coa-autora dos livros Falar bem, Escrever melhor e 500 Erros mais Comuns da Língua Portuguesa e coautora dos livros Gramática Descomplicada, Pares Difíceis da Língua Portuguesa, Pontapés na Gramática, Assim é que é Falar!SOS da Língua PortuguesaQuem Tem Medo da Língua Portuguesa? Mais Pares Difíceis da Língua Portuguesa e de um manual escolar de Português: Ás das Letras 5. Mais informação aqui.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Após acordo, "para-sol" ou "parassol"? Se for "para-sol", porquê?

Muito obrigado.

Resposta:

A grafia atual é: para-sol (grafia anterior: pára-sol).

Segundo o novo Acordo Ortográfico:

(i) Usa-se hífen nas palavras compostas que não contêm nenhum elemento de ligação: primeiro-ministro, segunda-feira, abre-latas, para-sol.

(ii) Eliminam-se os acentos agudos e circunflexos de palavras homógrafas. Será o contexto que permitirá fazer a sua distinção: para (verbo)/para (preposição): «Para para beberes café antes do início da reunião.»

Pergunta:

Dois dos objetivos primordiais do Novo Acordo são a simplificação e a criação de uma única norma para a regulamentação da língua portuguesa.

Assim sendo, como explicar que se tenham mantido as grafias à-vontade (nome) e «à vontade» (locução adverbial) no VOP do Portal (enquanto o VOLP da Academia Brasileira das Letras regista apenas à vontade, nome e locução) e se tenha eliminado o hífen no nome dia-a-dia? Numa resposta dada em 2/01/2012, a vossa colaboradora Sandra Duarte Tavares diz: «"Dia a dia" e "cor de laranja", segundo o novo acordo, não levam hífen.

«Eis as regras: HÍFEN (Bases XV, XVI e XVII)

"– Não se usa hífen nas palavras compostas que contêm um elemento de ligação, ou seja, constituídas por Nome + de + Nome: fim de semana, caminho de ferro, lua de mel, dia a dia, etc. (salvo algumas exceções já consagradas pelo uso, como é o caso de água-de-colónia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, à queima-roupa)."»

PROBLEMA: «dia a dia» não é composto por Nome + de + Nome… Seria possível explicar melhor a manutenção do hífen num caso e a eliminação no outro?

Será que o vocabulário comum vai acabar com estas saladas que em nada beneficiam a promoção da língua portuguesa (aumentado as resistências às mudanças em vigor)?

Cumprimentos e continuação do precioso trabalho que têm vindo a fazer.

Resposta:

Respondo às suas questões pela ordem de apresentação.

1. O nome à-vontade leva hífen para se distinguir da expressão adverbial «à vontade».

2. Retifico a definição: Não se usa hífen nas palavras compostas que contêm um elemento de ligação, ou seja, constituídas por nome + preposição + nome. Normalmente, a preposição que liga esses nomes é a preposição de, mas pode ser qualquer outra (de que dia a dia é exemplo).

3. A eliminação do hífen nos compostos que contêm um elemento de ligação (ou seja, uma preposição) justifica-se pelo facto de nomes como fim de semana, lua de mel, pão de ló, caminho de ferro, dia a dia pertencerem apenas a uma única classe de palavras — a classe dos nomes. Não há, por isso, ambiguidade. Como se referiu em 1, o uso de hífen em à-vontade serve justamente para fazer distinção de duas classes gramaticais.

Pergunta:

Que função sintática desempenha o advérbio mal na seguinte ocorrência: «Parece-me mal que os alunos não trabalhem na sala de aula»?

Resposta:

Tendo em conta que, nesta estrutura sintática, a frase completiva «que os alunos não trabalhem na sala de aula» desempenha a função sintática de sujeito do verbo parecer, o advérbio mal desempenha a função de predicativo de sujeito: «Isso parece-me mal.»

Pergunta:

Queria saber qual das duas formas é correcta: «Hei de vos enviar», ou «Hei de enviar-vos»?

Obrigada.

Resposta:

Depois de haver de, o pronome pessoal vos  pode ocorrer antes  ou depois do verbo principal enviar – «hei de vos enviar» ou «hei de enviar-vos», à semelhança do que acontece com o verbo auxiliar ter de: «tenho de vos enviar» ou «tenho de enviar-vos».

Sugiro que consulte também os Textos Relacionados.

Pergunta:

Na frase «O João comprou umas sapatilhas novas ao filho em Chaves», gostaria de saber as funções sintáticas da frase e os grupos em que se divide, bem como as classes de palavras.

Resposta:

Análise sintática, de acordo com o Dicionário Terminológico (DT):

Sintagma nominal sujeito: «o João»

Sintagma verbal predicado: «comprou umas sapatilhas novas ao filho em Chaves»

Sintagma nominal complemento direto: «umas sapatilhas novas»

Sintagma preposicional complemento indireto: «ao filho»

Sintagma preposicional modificador: «em Chaves»

Nota: Há autores que consideram que o predicado deve incorporar apenas o verbo e os seus complementos, pelo que a expressão «em Chaves» não deveria fazer parte do predicado.

Análise morfológica, de acordo com o DT:

o – determinante artigo definido

João – nome próprio

comprou – verbo transitivo direto

umas – determinante artigo indefinido

sapatilhas – nome comum

novas – adjetivo qualificativo

ao – contração da preposição a com o determinante artigo o

filho – nome comum

em – preposição simples

Chaves – nome próprio