Pergunta:
Dois dos objetivos primordiais do Novo Acordo são a simplificação e a criação de uma única norma para a regulamentação da língua portuguesa.
Assim sendo, como explicar que se tenham mantido as grafias à-vontade (nome) e «à vontade» (locução adverbial) no VOP do Portal (enquanto o VOLP da Academia Brasileira das Letras regista apenas à vontade, nome e locução) e se tenha eliminado o hífen no nome dia-a-dia? Numa resposta dada em 2/01/2012, a vossa colaboradora Sandra Duarte Tavares diz: «"Dia a dia" e "cor de laranja", segundo o novo acordo, não levam hífen.
«Eis as regras: HÍFEN (Bases XV, XVI e XVII)
"– Não se usa hífen nas palavras compostas que contêm um elemento de ligação, ou seja, constituídas por Nome + de + Nome: fim de semana, caminho de ferro, lua de mel, dia a dia, etc. (salvo algumas exceções já consagradas pelo uso, como é o caso de água-de-colónia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, à queima-roupa)."»
PROBLEMA: «dia a dia» não é composto por Nome + de + Nome… Seria possível explicar melhor a manutenção do hífen num caso e a eliminação no outro?
Será que o vocabulário comum vai acabar com estas saladas que em nada beneficiam a promoção da língua portuguesa (aumentado as resistências às mudanças em vigor)?
Cumprimentos e continuação do precioso trabalho que têm vindo a fazer.
Resposta:
Respondo às suas questões pela ordem de apresentação.
1. O nome à-vontade leva hífen para se distinguir da expressão adverbial «à vontade».
2. Retifico a definição: Não se usa hífen nas palavras compostas que contêm um elemento de ligação, ou seja, constituídas por nome + preposição + nome. Normalmente, a preposição que liga esses nomes é a preposição de, mas pode ser qualquer outra (de que dia a dia é exemplo).
3. A eliminação do hífen nos compostos que contêm um elemento de ligação (ou seja, uma preposição) justifica-se pelo facto de nomes como fim de semana, lua de mel, pão de ló, caminho de ferro, dia a dia pertencerem apenas a uma única classe de palavras — a classe dos nomes. Não há, por isso, ambiguidade. Como se referiu em 1, o uso de hífen em à-vontade serve justamente para fazer distinção de duas classes gramaticais.