Sandra Duarte Tavares - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sandra Duarte Tavares
Sandra Duarte Tavares
83K

É mestre em Linguística Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. É professora no Instituto Superior de Comunicação Empresarial. É formadora do Centro de Formação da RTP e  participante em três rubricas de língua oortuguesa: Agora, o Português (RTP 1), Jogo da Língua  e Na Ponta da Língua (Antena 1). Assegura ainda uma coluna  mensal  na edição digital da revista Visão. Autora ou coa-autora dos livros Falar bem, Escrever melhor e 500 Erros mais Comuns da Língua Portuguesa e coautora dos livros Gramática Descomplicada, Pares Difíceis da Língua Portuguesa, Pontapés na Gramática, Assim é que é Falar!SOS da Língua PortuguesaQuem Tem Medo da Língua Portuguesa? Mais Pares Difíceis da Língua Portuguesa e de um manual escolar de Português: Ás das Letras 5. Mais informação aqui.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Na frase: «Vivo aqui com os meus pais», qual a função sintáctica de «aqui» e de «com os meus pais»?

Obrigada.

Resposta:

O verbo viver seleciona dois argumentos: um sintagma nominal sujeito (quem vive) e um sintagma preposicional complemento oblíquo (onde vive). Assim, o advérbio aqui desempenha a função de complemento oblíquo (porque é um argumento do verbo), e o grupo preposicional «com os meus pais» desempenha a função de modificador verbal (porque não faz parte da sua grelha argumental).

Complemento oblíquo é um sintagma preposicional, introduzido por qualquer preposição (a, com, de, em, para, por, etc.) e nunca pode ser substituído pelo pronome pessoal dativo -lhe. É selecionado pelo verbo e, por isso, faz parte do predicado.

 

(1) «A Mafalda pôs o livro na estante
(2) «Ninguém faltou à reunião
(3) «O Vasco conversou com a Patrícia
(4) «Os alunos foram para casa

 

O modificador verbal é um sintagma preposicional ou um sintagma adverbial que não é selecionado pelo verbo e pode, por isso, ser eliminado da frase. Não faz parte do predicado.

 

(5) «Os pais do Bernardo compraram uma casa no Algarve
(6) «As crianças foram ao circo ontem de manhã

 

Pergunta:

É possível escrever corretamente sem usar o que?

Resposta:

Sim. Quando é uma conjunção integrante, o morfema que pode ser omitido, sobretudo se o sujeito corresponder à 1.ª pessoa do singular ou do plural:

1. (a) «Solicito que me seja dada equivalência a estas disciplinas.»
(b) «Solicito [  ] me seja dada equivalência a estas disciplinas.»

2. (a) «Exigimos que nos seja concedido o reembolso do dinheiro.»
(b) «Exigimos [  ] nos seja concedido o reembolso do dinheiro.»

Pergunta:

«Toma-se o sumo», ou «bebe-se o sumo»?

Resposta:

Ambos os verbos estão corretos. Pelo menos, em português europeu, com palavras que se referem a bebidas (sumo, café, chá, leite), pode usar-se tomar ou beber. Muitas vezes com o verbo tomar sugere-se também que a bebida em referência fez parte de uma refeição: «Ele tomou sumo ao pequeno-almoço.»

Pergunta:

Anteriormente já se escreveu espontâneamente, com acento circunflexo?

Resposta:

Já, mas só até 1973.

No Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa (Coimbra, Atlântida-Livraria Editora, 1947, pág. 172/173), de Rebelo Gonçalves, estipulava-se o seguinte:

«6) Nos advérbios em -mente que derivam de formas adjectivas marcadas com acento circunflexo (servindo o emprego deste, em tais casos, para indicar uma acentuação secundária):

cândidamente, cortêsmente, dinâmicamente, espontâneamente, idênticamente, longânimemente, portuguêsmente, românticamente, terapêuticamente.»

Este uso terminou em 1973, quando o governo português publicou o Decreto-Lei n.º 32/73, abolindo o acento grave e o circunflexo que marcavam o acento secundário das palavras terminadas em -mente (agradàvelmente > agradavelmente; espontâneamente > espontaneamente) ou modificadas por sufixos de diminutivo começados por z- (sòzinho > sozinho; avôzinho > avozinho).

Pergunta:

«Entre as vítimas (da Revolução Francesa) estavam (estava) ninguém menos que o rei Luís XVI e a rainha Maria Antonieta, decapitados em 1793.»

Creio que o verbo deva corretamente ficar no singular. Estou certo?

Obrigado.

Resposta:

Sim, o verbo deve estar no singular, porque o seu sujeito é o pronome indefinido ninguém.