Sandra Duarte Tavares - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sandra Duarte Tavares
Sandra Duarte Tavares
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É mestre em Linguística Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. É professora no Instituto Superior de Comunicação Empresarial. É formadora do Centro de Formação da RTP e  participante em três rubricas de língua oortuguesa: Agora, o Português (RTP 1), Jogo da Língua  e Na Ponta da Língua (Antena 1). Assegura ainda uma coluna  mensal  na edição digital da revista Visão. Autora ou coa-autora dos livros Falar bem, Escrever melhor e 500 Erros mais Comuns da Língua Portuguesa e coautora dos livros Gramática Descomplicada, Pares Difíceis da Língua Portuguesa, Pontapés na Gramática, Assim é que é Falar!SOS da Língua PortuguesaQuem Tem Medo da Língua Portuguesa? Mais Pares Difíceis da Língua Portuguesa e de um manual escolar de Português: Ás das Letras 5. Mais informação aqui.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Li hoje num artigo de Mário Soares: «..., a guerra da Argélia, onde nasceu,...»

Impressão minha, ou uma segunda frase, separada da primeira por uma vírgula, reporta-se ao sujeito da frase anterior? Isto é, o autor não está a dizer que o escritor (refere-se a Camus) nasceu «na guerra»?

Resposta:

Concordo totalmente com a sua interpretação.

Apesar de o antecedente do relativo onde ser todo o sintagma nominal «a guerra da Argélia», é o núcleo desse sintagma – o nome guerra – que fixa a sua referência. Logo, a interpretação semântica de uma estrutura como «a guerra da Argélia, onde nasceu Camus…» é, do meu ponto de vista, «a guerra na qual Camus nasceu».

Pergunta:

Pode haver duas orações subordinadas completivas numa frase? Na frase «Chama-lhes sal da terra porque quer que façam na terra o que faz o sal», «o que faz o sal» é uma oração subordinada completiva, tal como «que façam na terra»? Grata pela atenção.

Resposta:

Pode haver, sim, duas ou mais orações subordinadas completivas numa frase, por exemplo:

a) «O professor pensa que a ideia de apresentarmos o trabalho publicamente é ótima.»

b) «Os alunos estão desejosos de que as férias comecem e estão convencidos de que as aulas terminam mais cedo.»

A frase que apresenta, porém, não contém duas orações completivas, mas, sim, apenas uma. Ocorre efetivamente uma oração completiva («que façam na terra o que faz o sal»»), como complemento direto da forma verbal «quer» na oração «porque quer que façam na terra o que faz o sal», sequência que constitui uma oração subordinada adverbial causal. Contudo, a oração «(o) que faz o sal» é uma oração subordinada relativa restritiva, que tem como antecedente a forma o, que ocorre como pronome demonstrativo.

N. E. – Devido à deteção de um lapso, do qual nos penitenciamos, esta resposta foi corrigida em 21/11/2015.

Pergunta:

Na frase «A hipótese de ele reprovar no exame é muito remota», que tipo de oração subordinada é «de ele reprovar no exame»?

Resposta:

Trata-se de uma oração subordinada completiva nominal não finita. A oração «de ele reprovar no exame» completa o sentido do nome hipótese.

Pergunta:

Em enunciados como por exemplo: 1) «O Pedro é muito inteligente» e 2) «O Pedro é bastante inteligente», uma vez que o sentido de muito e bastante é equivalente, deve-se considerar, no segundo enunciado, que «bastante inteligente» se encontra no grau superlativo absoluto analítico?

Resposta:

Sim. O grau superlativo absoluto analítico de um adjetivo forma-se com o recurso a um advérbio de intensidade, qualquer que ele seja: muito, bastante, imensamente, grandemente, entre outros.

Pergunta:

As funções sintáticas relativas aos verbos copulativos e transitivos-predicativos suscitam-me algumas dúvidas. Tendo-se, por exemplo, a frase seguinte:

«O réu foi considerado culpado», culpado é considerado um complemento direto, simultaneamente devido à falta deste elemento na frase e pelo facto de o verbo transitivo-predicativo surgir no particípio passado. Podemos considerar, pela mesma regra, que esses verbos e os verbos copulativos que surgem em frases com verbos auxiliares dos tempos compostos ou auxiliares temporais não apresentam, respetivamente, predicativo do sujeito e predicativo do complemento direto? (Ex.: Em «ele tem estado doente» e «ele tem ficado em casa», doente e «em casa» são considerados complementos oblíquos, ou predicativos do sujeito?)

Resposta:

1. Numa frase ativa como «o juiz considerou o réu culpado», o adjetivo culpado tem a função sintática de predicativo do complemento direto, pois predica a expressão nominal «o réu». Na frase passiva «o réu foi considerado culpado», o adjetivo culpado tem a função de predicativo do sujeito, uma vez que predica a expressão nominal «o réu», que é, nesta estrutura passiva, o sujeito da frase. O predicativo do sujeito concorda em género e número com o sujeito da frase: «Os réus foram considerados culpados; a ré foi considerada culpada.»

2. Nas frases «ele tem estado doente» e «ele tem ficado em casa», o grupo adjetival doente e o grupo preposicional «em casa» têm ambos a função de predicativo do sujeito.

Segundo o Dicionário Terminológico, «o predicativo do sujeito é a função sintática desempenhada pelo constituinte que ocorre em frases com verbos copulativos, que predica algo acerca do sujeito. Pode ser um grupo nominal, um grupo adjetival, um grupo preposicional ou um grupo adverbial. Contribui para a interpretação do sujeito, atribuindo-lhe uma propriedade, uma característica ou uma localização (temporal ou espacial). Neste sentido, diferencia-se dos complementos dos verbos transitivos (diretos ou indiretos), cujo significado não contribui necessariamente para uma identificação de uma propriedade ou de uma localização atribuível ao sujeito. É possível constatar que expressões com valor locativo selecionadas por verbos copulativos desempenham a função de predicativo do sujeito, porque podem ser coordenadas com outros constituintes com a mesma função, independentemente do seu valor: O João está [em Paris e muito doente].»

Disponha sempre!