Miguel Moiteiro Marques - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Miguel Moiteiro Marques
Miguel Moiteiro Marques
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Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Portugueses e Ingleses) pela Faculdade Letras da Universidade de Lisboa e mestrando em Língua e Cultura Portuguesa na mesma faculdade.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

É indiferente utilizar o plural ou o singular nas seguintes frases: «Vende-se espingarda» e «Vende-se espingardas»? Deveria antes utilizar o verbo no plural: «Vendem-se espingardas»? E no exemplo «Isto são rosas» não deveria utilizar-se «isto é» – enquanto realidade singular – «rosas»?

Resposta:

Não é indiferente usar o plural ou o singular: em «vende-se espingarda», supomos que alguém pretende vender uma (e apenas uma) espingarda; em «vende-se espingardas» fazemos referência a alguém que, provavelmente, tem um negócio de venda de armas (uma espingardaria, por exemplo).

Quanto à diferença entre «vende-se espingardas» e «vendem-se espingardas», remeto o consulente para esta esclarecedora resposta.

Por fim, encontra as razões de o verbo concordar com o nome predicativo de sujeito na frase «Isto são rosas» nesta resposta.

Pergunta:

Nas expressões que se seguem, talento e infância são nomes contáveis, ou não contáveis?

«Tem um enorme talento.»

«Lembrando a infância.»

Resposta:

Ambos são nomes não contáveis.

No caso de talento, podemos formular frases como «Tu tens dois talentos ocultos. Talvez até mais, três ou quatro talentos!», aquilo que estamos a fazer é uma distinção qualitativa, diferenciando tipos de talentos, e não a contar talentos como quem conta ovelhas, cada uma com as suas particularidades, é certo, mas ovelhas umas como as outras.

Quanto a infância, o exemplo dado pela consulente não levanta dúvidas. Até mesmo numa frase como «Freud distingue três infâncias […]», infâncias, tal como no exemplo dado para talento, remete para diferentes tipos de infâncias.

Pergunta:

Gostaria que me explicassem se a palavra confortabilidade na frase «A equipa do Fonte da Pipa esforça-se constantemente pela confortabilidade deste espaço» está bem usada e, se sim, porquê.

Resposta:

Se a «equipa do Fonte da Pipa» estiver a esforçar-se constantemente por tornar confortável o espaço em questão, então a palavra confortabilidade está bem aplicada, visto tratar-se, como atesta o Dicionário Houaiss, de um substantivo que significa a «qualidade ou a condição do que é confortável», ou seja, conforto. Dito de outra maneira, «a equipa do Fonte da Pipa esforça-se constantemente por tornar/manter confortável este espaço».

Embora possa parecer um termo algo rebuscado, confortabilidade deriva do adjetivo confortável, em que o sufixo -vel surge sob a forma latina -bil(i), mais o sufixo -idade, sendo que este último dá o sentido de característica ou de qualidade, como em agradabilidade ou responsabilidade, entre outros. De qualquer modo, é legítimo o uso de confortabilidade.

Pergunta:

Qual a pronúncia de conector em português europeu (e qual a grafia a adotar com a aplicação do acordo ortográfico de 1990)?

Resposta:

A palavra conector pode ser pronunciada de duas maneiras: pronunciando a consoante c antes de t, ou sem pronunciar essa consoante c. Por esta razão, o Vocabulário Ortográfico do Português, do Portal da Língua Portuguesa (da responsabilidade do ILTEC), e a Academia Brasileira de Letras — onde poderá encontrar informação sobre o novo Acordo Ortográfico e consultar a grafia das palavras — atestam como possíveis as duas grafias, conector e conetor, sendo a última o caso em que a consoante é muda.

Refira-se que o Portal da Língua Portuguesa assinala os casos em que a variação na pronúncia e na grafia ocorre somente entre as variantes europeia e brasileira, o que não é o caso da palavra apresentada pelo consulente.

Pergunta:

Num conhecido sítio português da Internet destinado a promover uma conhecida colecção de livros infanto-juvenis, Uma Aventura (www.uma-aventura.pt), encontravam-se disponibilizadas algumas sugestões de trabalho, para análise dos referidos livros, a utilizar em contexto de sala de aula, nas escolas, no âmbito da disciplina de Língua Portuguesa. Num dos aludidos exercícios sugeridos encontrava-se a seguinte expressão composta, que eu não consigo entender: «jogo-sabatina».

Podiam-me explicar o que é de facto um jogo-sabatina, no contexto apresentado?

Resposta:

«Jogo de sabatina» ou «jogo sabatina» é a designação dada a um jogo de perguntas, normalmente sobre uma matéria abordada previamente ou de conhecimento geral. No caso apresentado pelo consulente, trata-se de uma atividade a realizar após a leitura de um dos livros da coleção, baseada em perguntas centradas no enredo (semelhantes a questionários de controlo de leitura, em que não se visa fazer a interpretação de um texto), com o objetivo de estimular a memorização e o reconto. Noutros contextos, pode designar um jogo de perguntas que testa os conhecimentos gerais, como este programa de televisão.

Tem origem no nome sabatina, o qual se referia à recapitulação oral da matéria pelo professor, geralmente ao sábado, através de perguntas e respostas. Existe também o verbo sabatinar, significando não só rever a matéria, mas também submeter alguém (um político, por exemplo ) a um conjunto de perguntas numa entrevista, como se fosse um exame sobre uma dada matéria (Dicionário Houaiss). Em alguns casos, «sabatinar alguém» é submeter essa pessoa a um exame sob a forma de entrevista antes de ocupar um determinado cargo, como neste exemplo da Agência Nacional de Energia Elétrica do Brasil.