Sobre «A vírgula em orações consecutivas»
«E a passagem da monarquia para a república não melhorou a vida da população, que se sentiu defraudada.»
Na frase acima, apresentada pela consulente Maria Pereira em 10/11/2011, permito-me discordar da resposta dada pelo consultor Miguel Moiteiro Marques.
Com a vírgula, a oração «que se sentiu defraudada» poderia também ser interpretada, e muito mais, como adjetiva explicativa. Portanto, a meu ver, a melhor solução, caso se queira considerá-la oração consecutiva, seria utilizar uma das locuções conjuntivas apontadas: «de modo que», «de forma que», após a competente vírgula, é claro. Penso, aliás, que a conjunção que consecutiva seria mais bem usada em construções tais como: «Correu tanto, que se cansou»; «Seu olhar era tão incisivo, que a moça ficou encabulada»
(Fernando Bueno, Brasil).
Na frase: «E a passagem da monarquia para a república não melhorou a vida da população, que se sentiu defraudada.»
– a oração que se sentiu defraudada não é consecutiva, mas relativa.
Verifiquei hoje que o Ciber modificou o texto da resposta inicial, que estava errada. Mas, em vez de corrigir o erro, acentuou-o. Aquele que é um pronome tão relativo (!) que até é sujeito da oração.
Se não acreditam no que eu digo, perguntem a qualquer professor de latim. Nenhum pode admitir a hipótese de aquele que ser consecutivo; nenhum ali poria um ut (conjunção consecutiva). E repito, sem receio de errar: nenhum!
E nem precisarão de ir fora da equipa do Ciber! Há nela quem possa confirmar a minha análise.
A nossa Colega, a professora Maria Pereira, que teve a humildade de vos consultar, e os vossos muitos leitores merecem uma informação correcta.
(Virgílio Dias, Portugal)
