Inês Gama - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Inês Gama
Inês Gama
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Licenciada em Português com Menor em Línguas Modernas – Inglês pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e mestre em Português como Língua Estrangeira e Língua Segunda (PLELS) pela mesma instituição. Fez um estágio em ensino de português como língua estrangeira na Universidade Jaguelónica em Cracóvia (Polónia). Exerce funções de apoio à edição/revisão do Ciberdúvidas e à reorganização do seu acervo.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Em um artigo sobre as futuras possibilidades do uso da tecnologia digital, li várias orações com verbos no presente que me despertaram dúvidas sobre o uso do indicativo ou do subjuntivo (conjuntivo em Portugal). Praticamente em todos os exemplos, o verbo aparecia no presente do indicativo na oração subordinada, mas o verbo da principal estava no futuro do indicativo.

Exemplos:

– «Quando estamos em férias, as conversas com estrangeiros, na nossa língua materna, serão traduzidas em simultâneo e serão escritas no dispositivo na sua língua materna.»

– «Quando compramos numa loja de desportos online, iremos escolher o artigo que desejamos.»

– «Enquanto estamos em uma reunião de trabalho, a ata está a ser elaborada.»

No português do Brasil, parece ser muito mais comum o uso do subjuntivo na oração subordinada nesses casos. Dependendo da oração, acredito que poderia ser considerado incorreto o uso do indicativo. Diríamos, por exemplo: «Quando estivermos de férias, as conversas com estrangeiros, na nossa língua materna, serão traduzidas...», ou «Quando estamos de férias, as conversas (...) são traduzidas».

Gostaria de saber se me podem ajudar com a interpretação do uso dos tempos e modos verbais com as conjunções enquanto e quando nos citados contextos.

Muito obrigada pela ajuda e parabéns pelo trabalho realizado todos os dias.

Resposta:

Na perspetiva do português europeu, as duas primeiras frases apresentadas parecem anómalas, porque, nas orações introduzidas por quando, seriam de esperar duas situações:

i) Se a oração temporal tem o verbo no presente do indicativo, então a subordinante apresenta o verbo no mesmo tempo e modo, e a frase é globalmente um enunciado genérico ou exprime habitualidade, como ilustram os exemplos seguintes:

(1) «Quando estamos em férias, as conversas com estrangeiros, na nossa língua materna, são traduzidas em simultâneo e são escritas no dispositivo na sua língua materna.»

(2) «Quando compramos numa loja de desportos online, escolhemos o artigo que desejamos.»

ii) Se a oração temporal tiver o verbo no futuro do conjuntivo, então o verbo da subordinante está ou no presente do indicativo ou no futuro simples do indicativo (será possível a perífrase de ir + infinitivo), como exemplificado em (3) e (4):

(3) «Quando estivermos em férias, as conversas com estrangeiros, na nossa língua materna, são/serão traduzidas em simultâneo e são/serão escritas no dispositivo na sua língua materna.»

(4)«Quando comprarmos numa loja de desportos online, escolhemos/escolheremos o artigo que desejamos.»

Quanto à oração temporal introduzida por enquanto, é totalmente aceitável em PE, com valor de habitualidade:

(5) «Enquanto estamos numa reunião de trabalho, a ata está a ser elaborada.»

A frase (5) é também válida como enunciado que representa um processo que decorre no momento da enunciação.

É ig...

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Pergunta:

Quando em português um particípio passado vem logo após um substantivo, o referido particípio é, de preferência, de qual classe gramatical?

Por exemplo, em «Heróis Unidos» [...] indica-se que "Unidos" é verbo? Ou é adjetivo?

Qual dos dois será a opção padrão? E por quais motivos isso?

Obrigado.

Resposta:

Se a expressão «Heróis Unidos» surgir em estruturas como «Heróis unidos vão derrotar o vilão», o termo unidos, neste caso, é considerado um adjetivo.

Os particípios verbais e os adjetivos partilham um número importante de propriedades morfológicas, sintáticas e semânticas. Neste sentido, autores como Rita Veloso e Eduardo Raposo, em Gramática do Português (Fundação Calouste Gulbenkian), consideram que «não existe uma separação nítida e estanque entre a classe dos adjetivos e a dos particípios. Antes, os particípios, dependendo do contexto em que ocorrem e também do seu sentido mais ou menos previsível a partir do verbo com que se relacionam, podem ocupar um determinado número de posições numa escala gradativa na qual um dos extremos corresponde a formas inteiramente verbais e o outro a forma cujo sentido se afasta do sentido do verbo correspondente, e das quais se pode dizer que se recategorizaram completamente em adjetivos» (pág. 1478).

Os contextos em que os particípios apresentam sobretudo propriedades verbais são:

i) tempos compostos, construídos com o auxiliar ter ou haver:

(1) «Os heróis tinham unido a população contra o vilão.»

(2) «Os heróis haviam unido a população contra o vilão.»

ii) frases passivas, com o verbo auxiliar ser:

(3) «Os heróis foram unidos pelo vilão.» 

Nas construções em que os verbos auxiliares são estar e...

Pergunta:

Gosto muito do Rúben Amorim e vejo todas as conferências de imprensa dele.

Tenho uma dúvida sobre uma frase que ele disse hoje, ou seja (minuto 10:32, Youtube):

«O contexto é completamente diferente. Quando jogámos aqui, acho que tínhamos os mesmos pontos ou, se o Porto ganhasse, apanhava-nos na classificação.»

Tendo em conta que foi um evento relativo ao passado e hoje não poderia acontecer, não deveria ter dito: «Se o Porto tivesse ganhado, ter-nos-ia apanhado/tinha-nos apanhado na classificação»?

Obrigado.

Resposta:

A frase dita por Rúben Amorim ao minuto 10:32 da conferência de imprensa de antevisão do jogo do Sporting contra o Porto, ocorrido a 28/04/2024, está correta.

A oração «se o Porto ganhasse» consiste numa oração condicional contrafactual, uma vez que Rúben Amorim, na conferência de imprensa em questão, estava a referir-se à última vez em que o Sporting tinha jogado contra o Porto. Neste caso, a interpretação da oração faz-nos assumir que o antecedente é falso, ou seja, que o Porto não ganhou esse último jogo contra o Sporting.

Segundo Maria Lobo, em Gramática do Português (Fundação Calouste Gulbenkian), as orações condicionais contrafactuais geralmente ocorrem com o pretérito mais-que-perfeito do conjuntivo, «mas também são possíveis o imperfeito do conjuntivo e o presente do indicativo» (pág. 2021). Neste sentido, o uso da oração «se o Porto ganhasse» no contexto referido está correto. No entanto, também seria aceitável o pretérito mais-que-perfeito do conjuntivo «se o Porto tivesse ganhado».

Quanto ao uso do imperfeito simples do indicativo na oração principal, «apanhava-nos na classificação», também está correto, uma vez que, tal como indica Maria Lobo, a sua função é realçar o mundo alternativo que é construído e contribuir para uma interpretação contrafactual da frase que está condicionada pragmaticamente. Pois, é «através da relação que se estabelece entre o tempo da oração principal e o da oração subordinada que conseguimos interpretar ...

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