Neste pequeno texto, a consultora Inês Gama explora algumas das palavras mais frequentes na época festiva da Páscoa.
Licenciada em Português com Menor em Línguas Modernas – Inglês pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e mestre em Português como Língua Estrangeira e Língua Segunda (PLELS) pela mesma instituição. Fez um estágio em ensino de português como língua estrangeira na Universidade Jaguelónica em Cracóvia (Polónia). Exerce funções de apoio à edição/revisão do Ciberdúvidas e à reorganização do seu acervo.
Neste apontamento, a consultora Inês Gama aborda as diferenças entre as palavras adesão e aderência.
(Apontamento transmitido no programa Páginas de Português, da Antena 2, em 24/03/2024)
Uma seleção das palavras que marcaram o período de campanha para as eleições legislativas de10 de março de 2024, em Portugal, e a fase de divulgação dos resultados das votações é o tema deste texto da consultora Inês Gama, que aproveita ainda para esclarecer certas confusões que algumas delas causaram.
Na frase: «O avô tinha o livro na estante», «na estante» pode ser considerado complemento oblíquo?
Ou é modificador do grupo verbal?
Obrigada.
Na frase indicada pelo consulente, o constituinte «na estante» desempenha a função de modificador do grupo verbal. Isto porque não é selecionado por nenhum elemento do grupo sintático de que faz parte, sendo que, por esta razão, a sua omissão não afeta a gramaticalidade da frase, como se verifica em (1):
(1) «O avô tinha o livro.»
Para que um determinado constituinte da frase seja considerado complemento oblíquo, este tem de ser selecionado pelo verbo e, por isso, a sua omissão afeta a aceitabilidade da frase. Por exemplo, na frase (2), em que ocorre o verbo colocar, caso se omita o elemento «na estante», isso torna-a pouco aceitável já que o seu sentido fica incompleto, como se observa em (3).
(2) «O avô colocou o livro na estante.»
(3) «?O avô colocou o livro.»1
Outro processo que se pode utilizar para identificar o modificador do grupo verbal é o teste da interrogação e negação, uma vez que os modificadores do grupo verbal podem ser interrogados, como mostra o exemplo (4), e negados, como indica o exemplo (5).
(4) «Era na estante que o avô tinha o livro?»
(5) «O avô tinha o livro não na estante, mas na mão.»
1. O ponto de interrogação assinala a estranheza da frase.
As seguintes frases me causaram dúvidas:
1. «A quem você quer impressionar?»
2. «A quem estimamos?»
Minhas dúvidas consistem no seguinte: conforme consultei no dicionário de regência verbal de Celso Luft, ambos verbos regem o acusativo, sendo vulgar a utilização do objeto indireto. Portanto, surgiu a questão: estão erradas as duas frases, já que utilizam a preposição a antes do pronome quem? Sei que, especialmente quando o objeto direto se refere a uma pessoa (e o pronome quem, salvo engano, sempre se refere a pessoa), pode (ou deve?) ele ter a si anteposta uma preposição (= objeto direto preposicionado). Contudo, não sei se seria o caso…
Caso me pudessem esclarecer a questão, ficaria grato!
Ambas as frases estão corretas.
Nas frases apresentadas pelo consulente, quem ocorre na forma de um pronome interrogativo, e a ausência ou presença da preposição deve-se à função sintática que este desempenha. Por conseguinte, nas frases apresentadas, «a quem» tem a função sintática de complemento direto. Em geral, quando desempenha esta função, o constituinte quem não é introduzido por uma preposição, sendo mais comum o uso de estruturas como: «Quem você quer impressionar?» ou «Quem estimamos?». No entanto, em algumas situações, quando o complemento direto é selecionado por verbos que exprimem sentimentos, como impressionar e estimar pode ser preposicionado, como se pode observar nos exemplos (1) e (2):
(1) «Você quer impressionar a todos os professores.»
(2) «Estimamos a todos os benfeitores.»
Note-se que, nestes exemplos, «a todos os professores» e «a todos os benfeitores» são constituintes com a função de complemento direto, selecionados pelos verbos impressionar e estimar, e que têm a particularidade de s...
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