Inês Gama - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Inês Gama
Inês Gama
16K

Licenciada em Português com Menor em Línguas Modernas – Inglês pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e mestre em Português como Língua Estrangeira e Língua Segunda (PLELS) pela mesma instituição. Fez um estágio em ensino de português como língua estrangeira na Universidade Jaguelónica em Cracóvia (Polónia). Exerce funções de apoio à edição/revisão do Ciberdúvidas e à reorganização do seu acervo.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Deve dizer-se «voltaremos em 2 minutos», ou deve dizer-se «voltaremos dentro de 2 minutos»?

Resposta:

Ambas as frases estão corretas. Neste caso, pode-se assumir que o uso temporal das expressões «em 2 minutos» e «dentro de 2 minutos» tem nestas estruturas um sentido idêntico, assumindo ambas a função sintática de modificador de localização temporal.

Geralmente, para referir um intervalo de tempo compreendido entre o momento da enunciação e a situação seguinte, é comum o uso da locução «dentro de» seguido de uma expressão quantificadora de tempo: «volto dentro de 2 minutos», «o alarme vai soar dentro de um minuto», «chegam dentro de uma hora»1. De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa, a locução «dentro de» tem como sentido «no espaço de tempo que medeia o momento de enunciação e o período de tempo referido». Quer isto dizer que «voltaremos dentro de 2 minutos» indica o momento em que a ausência do sujeito do enunciado (“nós”) acaba através do seu regresso ao local da enunciação.

Nestes casos, também se pode verificar o emprego da expressão «em x tempo». Verifique-se o exemplo seguinte:

(1) «Meus Senhores, tenho muita pena mas em poucos minutos tenho de fechar a casa.» (Rúben A., Páginas, 1988, in Corpus do Português)

Note-se, porém, que, em (1), «em poucos minutos tenho de fechar a casa» pode ter uma dupla leitura:<...

O ensino do português em Moçambique
Entrevista à professora Marta Sitoe – Parte II

De modo a tentar conhecer um pouco melhor o funcionamento do ensino do português em Moçambique, o Ciberdúvidas conversou com a professora e investigadora Marta Sitoe, da Universidade Eduardo Mondlane, sobre questões relacionados com o ensino neste país.

A língua portuguesa em Moçambique
Entrevista à professora Marta Sitoe – Parte I

No sentido de tentar perceber a situação linguística e o funcionamento do ensino do português em Moçambique, o Ciberdúvidas conversou com a professora Marta Sitoe, investigadora da Universidade Eduardo Mondlane (Moçambique). No decurso da conversa, publicada em duas partes, esta especialista abordou os temas da complexa realidade linguística deste país africano e das características do ensino de línguas, nomeadamente o português.

O português em África
Entrevista do Ciberdúvidas a três professoras universitárias nos PALOP

No sentido de tentar perceber melhor a realidade atual do português em diferentes países africanos, o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa apresenta um conjunto de reflexões sobre o português e o seu ensino em alguns países africanos de língua oficial portuguesa. Neste contexto, o Ciberdúvidas entrevistou Eunice Marta, docente no Instituto Piaget de BenguelaGoreti Freire, professora na Universidade de Cabo Verde, e Marta Sitoe, docente e investigadora da Universidade Eduardo Mondlane (Moçambique), sobre a situação linguística e o funcionamento do ensino do português em Angola, Cabo Verde e Moçambique.

Pergunta:

Do ponto de vista gramatical, é possível substituir verbos no condicional com os mesmos verbos, mas no futuro do pretérito composto, sem modificar o sentido da frase?

Por exemplo, queria saber se as frases seguintes são usadas com os mesmos significados.

1) Aonde é que ele iria? = 2) Aonde é que ele teria ido?

Muito obrigado.

Resposta:

A frase (1) apresentada pelo consulente tem o verbo no condicional simples (segundo a terminologia portuguesa) ou futuro do pretérito (segundo a terminologia brasileira), ao passo que na frase (2) o verbo está no condicional composto (segundo a terminologia portuguesa) ou futuro composto (segundo a terminologia brasileira). Estes não permutam, ou seja, não são sinónimos. Repare-se que as frases (1) e (2) quando integradas no discurso indireto apresentam valores diferentes:

(1) Ele perguntou onde é que ele iria.

(2) Ela perguntou aonde é que ele teria ido.

Em (1), iria refere um estado de desconhecimento sobre um evento simultâneo ao momento da pergunta. Já em (2), «teria ido», o desconhecimento é relativo a um evento ocorrido antes do momento da pergunta.

O condicional simples pode ter um valor temporal de “Futuro do Passado”, ou seja, localizando uma situação no passado, mas que ocorreu num tempo posterior a outra situação também passada, como exemplificado em (3). Este uso do condicional, tal como assinala Fátima Oliveira em Gramática do Português (Fundação Calouste Gulbenkian), é pouco usual na fala e escrita correntes.

(3) Depois da batalha, aquele cavaleiro seria proclamado herói.

O condicional simples pode também ocorrer em situações cujo pretérito imperfeito (P.I.) do indicativo também é possível, isto é, pode em certos contextos ser substituído pelo P. I. do indicativo. Neste sentido, o condicional simples pode ser usado para exprimir situações cuja realização está dependente de uma condição, como em ...