Inês Gama - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Inês Gama
Inês Gama
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Licenciada em Português com Menor em Línguas Modernas – Inglês pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e mestre em Português como Língua Estrangeira e Língua Segunda (PLELS) pela mesma instituição. Fez um estágio em ensino de português como língua estrangeira na Universidade Jaguelónica em Cracóvia (Polónia). Exerce funções de apoio à edição/revisão do Ciberdúvidas e à reorganização do seu acervo.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Seria possível que me esclarecessem detalhadamente acerca do complemento do nome e do adjetivo e como identificá-los?

Grato pela atenção.

Resposta:

A função sintática complemento do nome consiste num constituinte do grupo nominal, selecionado pelo nome, cujo sentido completa. Este complemento pode ser um grupo preposicional não oracional, como em (1), um grupo preposicional oracional, como em (2), ou ainda um grupo adjetival, como em (3).

(1) O vendedor de gelados caminha ao longo do parque.

(2) Ele deu-me a garantia de que vinha hoje.

(3) A pesca baleeira tem vindo a aumentar.

Normalmente, o complemento do nome não pode ser suprimido, exceto em situações em que a sua inferência pode ser implícita, uma vez que a sua supressão alterar o sentido da frase ou o torna incompleto, como se pode verificar nos exemplos seguintes:

(4) O vendedor caminha ao longo do parque.

(5) Ele deu-me a garantia.

(6) A pesca tem vindo a aumentar.

Quando o complemento do nome é um grupo oracional, a preposição pode ser omitida, pois não é obrigatória, como se observa em (7):

(7) Ele deu-me a garantia que vinha hoje.

Já o complemento do adjetivo é uma função desempenhada por um constituinte selecionado por um adjetivo. Este é sempre ou um grupo preposicional não oracional, como em (8), ou um grupo preposicional oracional, como em (9).

(8) Este problema é difícil de resolver.

(9) Estou contente por teres ganho aquele prémio.

O complemento do adjetivo é frequentemente opcional. Portanto, o que distingue o complemento do nome do complemento d...

<i>Tráfego</i> e <i>Tráfico</i>
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Este apontamento, a consultora Inês Gama aborda as diferenças entre as palavras tráfego e tráfico.

(Apontamento transmitido  no programa Páginas de Português, da Antena 2, em 28/04/2024)

Viva a liberdade!
Considerações sobre o conceito mais famoso do 25 de Abril

No âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de abril, a consultora Inês Gama reflete, neste apontamento, sobre os sentidos da palavra liberdade.

Pergunta:

Os parabéns ao Ciberdúvidas pela ajuda preciosa e única que dá a quem usa a língua como instrumento.

A expressão «dar conta de», que no dicionário da Porto Ed. aparece com o significado de «aperceber-se, descobrir» e «responder por; dar explicações», é muitas vezes usada com o sentido de relatar, contar; por exemplo, julgo que é o sentido na frase: «notícias que nos davam conta dos ataques aéreos dos invasores» ou «o relatório dá conta dos casos tratados no hospital». Ora, apesar de muito usada neste sentido, não parece estar correto este significado, de acordo com a definição citada.

Peço uma explicação da expressão e do seu significado, com e sem pronome pessoal (dar conta de e dar-se conta de) (se o seu uso fizer diferença).

Muito obrigada.

Resposta:

De facto, o Dicionário da Porto Editora em linha (Infopédia) apenas apresenta para a expressão «dar conta de» a aceção de «responder por». Contudo, pesquisando noutros dicionários, como, por exemplo, o Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa (DLPACL), é possível identificar como sentidos desta expressão «informar alguém sobre alguma coisa», como em (1), ou «conseguir desempenhar com sucesso; conseguir desembaraçar-se», como em (2).

(1) «A Joana deu conta dos resultados do relatório ao júri.»

(2) «Apesar do elevado trabalho, o António deu conta do recado.»

Por conseguinte, tendo em conta os significados desta expressão atestados no DLPACL, é possível considerar que o segmento de frase, em (3), e a frase, em (4), apresentados pela consulente, estão corretos, na medida em que a expressão «dar conta de» é aqui utilizada no seu sentido de informar.

(3) «[…] notícias que nos davam conta dos ataques aéreos dos invasores […]»

(4) «O relatório dá conta dos casos tratados no hospital.»

Quanto à utilização desta expressão com o pronome reflexo, «dar-se conta de», os seus sentidos são um pouco diferentes dos atribuídos à expressão «dar conta de». Tanto a Infopédia como o DLPACL apresentam como possíveis significados de «dar-se conta de»: «aperceber-se de», notar ou «dar por isso», como exemplificado na frase (5).

<i>«Duelo a três»</i>
Como se deve designar um combate a três?

Em Portugal, em alguns noticiários televisivos, artigos de jornais e espaços de comentário, usou-se a expressão «duelo a três», para descrever o debate que teve lugar entre os três maiores partidos do parlamento. Esta descrição não passou ao lado dos comentadores do Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer, transmitido na SIC Notícias, em 12 de abril de 2024. Nele o moderador/apresentador, Carlos Vaz Marques, questiona o Ciberdúvidas sobre se tal expressão estaria correta e qual seria a melhor forma de, em português, designar um combate a três? Neste apontamento, a consultora Inês Gama tenta dar resposta a essa questão.