A sinonímia do adjetivo obsoleto é o tema do apontamento gramatical da consultora Inês Gama (divulgado no programa Páginas de Português, da Antena 2, em 10/11/2024).
Licenciada em Português com Menor em Línguas Modernas – Inglês pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e mestre em Português como Língua Estrangeira e Língua Segunda (PLELS) pela mesma instituição. Fez um estágio em ensino de português como língua estrangeira na Universidade Jaguelónica em Cracóvia (Polónia). Exerce funções de apoio à edição/revisão do Ciberdúvidas e à reorganização do seu acervo.
A sinonímia do adjetivo obsoleto é o tema do apontamento gramatical da consultora Inês Gama (divulgado no programa Páginas de Português, da Antena 2, em 10/11/2024).
Numa apresentação pessoal, gostaria de saber se é correto dizer «chamo-me Jaime» ou o melhor é dizer «chamam-me Jaime».
Este último caso é uma tese defendida por alguns, alegando que, por exemplo, eu não me chamo, mas as pessoas é que me chamam, porque me deram o nome, não eu. Então, para eles não é correto dizer «chamo-me», mas sim o correto é "chamam-me"
Aguardo a resposta. Obrigado.
A frase «Chamo-me Jaime» está correta e é aceite pela maioria dos falantes num contexto de apresentação pessoal.
Quando o verbo surge flexionado na primeira pessoa do singular como em chamo-me, o falante indica que se está a referir a si próprio. Para além disso, de acordo com os dicionários de referência da língua portuguesa, o verbo chamar-se utiliza-se com a aceção «ter determinado nome». Portanto, dizer «chamo-me Jaime» é o mesmo que dizer «tenho como nome Jaime».
Já a expressão «Chamam-me Jaime» é estranho usá-la num contexto em que nos estamos a apresentar a nós próprios, mas não deixa de ser possível. Note-se que o uso da terceira pessoa do plural neste caso pode ter como interpretação que o nome verdadeiro de quem se está a falar não é Jaime, mas este é frequentemente referido por outros através deste nome, por exemplo, «O meu nome é António, mas chamam-me Jaime por causa do meu avô».
Dizia-me, por favor, qual é a forma correta nas seguintes frases:
1. (Num autocarro para oferecer a alguém o meu lugar) Quer sentar? ou Quer sentar-se?
2. (Num restaurante para pedir a permissão) Posso sentar aqui? ou Posso sentar-me aqui?
Obrigado.
Em ambos os contextos, qualquer uma das frases apresentadas está correta e é possível ocorrer.
Em registos informais de língua oral e na língua escrita corrente pouco formal, é possível, em português, ocorrerem enunciados em que o pronome reflexo pode estar omitido, como ilustram os exemplos (1) e (2).
(1) Quer sentar?
(2) Posso sentar aqui?
Note-se, contudo, que estas estruturas são só aceitáveis quando o contexto discursivo assim o permite, como são os contextos referidos pelo consulente, num autocarro para oferecer a alguém o meu lugar ou num restaurante para pedir permissão.
Num registo formal, quer oral quer escrito, é preferível o uso de estruturas em que o pronome está realizado como, por exemplo, em (3) e (4).
(3) Quer sentar-se?
(4) Posso sentar-me aqui?
Nestes dois exemplos, os pronomes se e me são pronominais reflexos. O pronome reflexo (ou recíproco) pode desempenhar a função sintática do argumento interno exigida pelos verbos transitivos diretos (complemento direto) ou pelos verbos transitivos indiretos (complemento indireto). Em português, é aceite, em determinadas situações, omitir estes complementos. Neste sentido, pode-se considerar que o português é uma língua de objeto nulo.
Na frase «Os alunos, indignados e revoltados, protestaram junto da direção da escola», podemos aceitar que a expressão «da escola» desempenhe a função sintática de modificador restritivo do nome?
Obrigada pelo esclarecimento!
Neste caso, deve-se considerar que o constituinte «da escola» desempenha a função sintática de complemento do nome.
No contexto da frase apresentada pelo consulente, o nome direção constitui um nome deverbal, isto é, um nome que se relaciona morfológica e semanticamente com um verbo, que é o verbo dirigir no exemplo em causa.
Etimologicamente, direção é o resultado do latim directione-, nome derivado de direct-, um dos radicais do verbo dirigo. Do ponto de vista do atual funcionamento do português, aceita-se que direção mantém relação morfológica, semântica e sintática com o infinitivo dirigir, herdando deste o complemento direto («dirigir alguma coisa»), o qual se transpõe como complemento do nome: «direção de alguma coisa».
Para mais casos como este, consulte esta resposta: "Complemento do nome vs. modificador: 'o edifício da empresa'".
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