Pergunta:
Tendo frequentado o ensino primário nos primeiros anos da década de 80, sempre me intrigou a origem do alfabeto cursivo nessa altura ensinado nas escolas. Foi criado propositadamente para esse fim em Portugal? É uma adaptação de outro mais amplamente usado? Quando foi adotado no nosso sistema de ensino?
Entendo que esta questão é, na melhor das hipóteses, tangencial aos assuntos normalmente tratados neste local, e compreenderei se não for respondida. Não pretendo, certamente, abusar do serviço que aqui prestam e que sigo com regularidade e interesse.
Resposta:
Da pesquisa que fizemos sobre «cursivo», verificámos que se trata de «forma de letra manuscrita», «letra que se faz, correndo a letra sobre o papel» (Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, 2010), «o modo corrente de escrever, a caligrafia» (Grande Dicionário Etilmológico Prosódico da Língua Portuguesa, de Silveira Bueno, 1964). Este termo que deriva do latim medieval cursivu-, utilizado para se referir à escrita romana cursiva (também chamada de maiúscula cursiva ou capitalis cursiva), ou seja, «a forma quotidiana de escrita à mão, utilizada para cartas, por mercadores nos seus relatórios, pelos alunos que estudavam o alfabeto romano e até pelos imperadores nos seus despachos», uma vez que o estilo mais formal de escrita era baseado em maiúsculas quadradas romanas. O estilo cursivo era, portanto, utilizado para uma escrita mais rápida e informal, havendo notícias de que teria sido usado com mais intensidade do século I a. C. ao séc. III d. C.
A referência à escrita cursiva romana não surge por acaso, pois o alfabeto português resulta do alfabeto latino original. Ora, se a escrita cursiva corresponde à escrita à mão, conclui-se que o alfabeto — enquanto «o conjunto ordenado das letras de que nos servimos para transcrever os sons da linguagem falada» (Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, 17.ª ed., Lisboa, Sá da Costa, p. 63) — cursivo represente o alfabeto manuscrito, grafando as formas de cada uma das letras que são traçadas de forma corrente, imitando a maneira de escrever à mão, distinta da tipográfica, o que se pode verificar através do registo das imagens do