Pergunta:
Gostaria fosse mais bem esclarecida uma questão que, na minha opinião, não foi muito bem tratada em perguntas já feitas anteriormente:
http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=20712
http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=21126
Lembro-me de que desde a escola primária que frequentei no Brasil as professoras sempre chamavam a atenção dos alunos para a não colocação do til no ditongo nasal (ão, ãe e õe) sobre a primeira vogal, e não entre as vogais como era comum alguns assim escreverem. Tal fato ainda pode ser observado de forma não rara na escrita manuscrita dos brasileiros, embora isso seja taxado como uma ignorância das pessoas de baixa classe social...
Quando me mudei para Portugal fiquei intrigado pelo assunto ao me deparar com esta mesma característica, não só na escrita manual como também nas publicidades das lojas. O que me deixou ainda mais curioso por isto foi constatar que numa nas poesias escritas no mausoléu de Alexandre Herculano no Mosteiro dos Jerónimos em Lisboa, também lá estava o til colocado entre as vogais do ditongo...
Já observei tal fato também em alguns textos manuscritos portugueses do século XVII que tive a oportunidade de ter acesso.
Por favor, poderiam sanar esta minha dúvida se haverá alguma razão plausível para esta característica encontrada em Portugal e no Brasil.
Muito obrigado pela atenção.
Coloco algumas ligações de exemplos sobre este assunto:
Placas no Brasil:...
Resposta:
É verdade que a colocação do til tem variado ao longo do tempo. Em documentos antigos o til pode aparecer sobre as duas letras do ditongo nasal. Em textos impressos no século XVIII, ou mesmo antes, era frequente, se não mesmo sistemática, a colocação do til no o do ditongo (escrevia-se <aõ> em vez de <ão> como hoje). Ivo Castro, na sua Introdução à História do Português (Lisboa, Edições Colibri, pág. 208), diz a respeito de um texto manuscrito de inícios do século XVII:
«[...] o ditongo final [ ̃ɐw] é sempre grafado <aõ>, independentemente do étimo ou da tonicidade: pode ser tónico, como em Pantaleaõ, puxaõ, mas também átono, como em meteraõ, levaraõ, podiaõ.»
Cf. A origem dupla do til em português