Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Penso que esta dúvida que apresento já terá cruzado as mentes de muito boa gente e foi com alguma surpresa que não a vi aqui exposta no Ciberdúvidas (apesar de existir aqui o esclarecimento de uma dúvida a propósito do vocábulo bretão).

Vi-me recentemente confrontado com uma tradução sobre a história da Grã-Bretanha em que os termos "Britain" e "Great-Britain" são usados para referir coisas distintas.

Devo dizer que me debrucei um pouco sobre o assunto, mediante o pouco tempo que tinha à disposição para entregar o trabalho, e penso que o resultado, longe de estar mau, não me deixou totalmente esclarecido e/ou convencido.

Gostaria de ouvir algum dos ilustres consultores deste belo serviço de utilidade pública a pronunciar-se sobre este assunto.

"Britania", "Britain" e "Great-Britain" — quais as respectivas traduções para o português e o seu enquadramento histórico? E qual a distinção que há a fazer entre estas e a Bretanha (francesa)?

Agradeço desde já toda e qualquer atenção dispensada a esta minha questão.

Continuação do bom trabalho.

Resposta:

Os nomes portugueses equivalentes às designações em questão são os seguintes:

Britannia: forma latina, por vezes usada em inglês para referir de maneira personificada a Grã-Bretanha como entidade política; na Idade Média usavam-se as expressões Britannia Major, referente à Grã-Bretanha, e Britannia Minor, relativa à Bretanha francesa (ver infra); note-se que, na época romana, a Britannia não abrangia toda ilha da Grã-Bretanha, porque fora do Império Romano ficava, a norte, a região da Caledónia (a maior parte da actual Escócia).

Great Britain = a Grã-Bretanha enquanto espaço geográfico (é uma ilha) e conjunto de três nações: Inglaterra, País de Gales e Escócia.

Britain = sobretudo o conjunto formado pela Inglaterra e o País de Gales, embora também se use como abreviação de Great Britain, ou seja, a Grã-Bretanha.

United Kingdom = Reino Unido (Inglaterra, País de Gales, Escócia, Irlanda do Norte).

Britanny: Bretanha francesa (Bretagne).
 
Em inglês, encontra respostas à sua pergunta aqui.

Pergunta:

É correto utilizar a expressão «centros geográficos» ao se referir às diversas regiões do país, ou não se pode empregá-la no plural sob o argumento de que centro no sentido geográfico é único?

Resposta:

Pode usar o plural: «centros geográficos». Cada região terá o seu centro geográfico, logo haverá tantos centros quantas as regiões.

Pergunta:

O que está correto: «Dar uma olhada em algo» (ex.: «Deu uma olhada nos meninos»), ou «Dar uma olhada para algo» (ex.: «Deu uma olhada para os meninos»)?

Resposta:

O uso mais corrente é «dar uma olhada em», como se confirma pelas abonações relativas à entrada olhada, no Dicionário UNESP do Português Contemporâneo:

«Dê uma olhada nessas fotos.»

«Pedi ao vizinho que desse uma olhada na minha casa enquanto eu estivesse viajando.»

Pergunta:

Para Carla Viana.

«Ambas as formas estão correctas. A diferença parece residir antes no grau de cristalização das expressões: em "vou a tua casa", com contracção da preposição com o artigo (no Brasil, a chamada crase), nota-se uma tendência para a expressão fixa (idiomatização), como sucede com "em meu nome", que é a locução consagrada, em lugar da que estaria mais conforme ao uso do português europeu — "no meu nome".»

Muito obrigada pela sua resposta. Daí pode inferir-se que quem escreve «vou a tua casa» entende claramente que a é uma preposição?

Resposta:

É como diz. Em português europeu, a diferença é mesmo audível e tem correspondência na escrita: na frase «vou a tua casa», a forma a, sem acento, comporta-se como palavra átona, pronunciando-se como vogal fechada ("â"), pelo que só pode ser a preposição a, que introduz o complemento do verbo ir («ir a um lugar» e não *«vou um lugar»); em «vou à tua casa», a forma à é pronunciada como vogal aberta, em resultado da contração (crase) de dois aa fechados, o da preposição («ir a») e o do artigo que geralmente acompanha o possessivo («a tua casa»).

Pergunta:

Porque se escreve portuguÊS e lucidEZ se os sons finais são iguais? A forma português foi fixada na reforma portuguesa de 1911, antes se usava quase sempre "portuguez". Me disseram que foi para aproximar a ortografia portuguesa da castelhana, que já usava portugués e lucidez. Isso é verdade?

Resposta:

Não foi para coincidir com a grafia castelhana, mas foi para aplicar um critério etimológico: em português antigo, o -s final de português tinha pronúncia diferente da do -z final de surdez. Acontece que em castelhano se manteve esse contraste (que desapareceu nas variedades sul-americanas e andaluzas), enquanto desapareceu no português-padrão (embora se tenha mantido em certas variedades regionais, sobretudo em parte dos dialectos setentrionais).