Pergunta:
Gostava de saber a origem deste fenómeno que tenho reparado que acontece no norte de Portugal com o som nasal "em", antes de uma vogal.
Exemplos: "Quenhé?" («quem é?»); "benhalto" («bem alto?»); "tambenhaparecem" («também aparecem»).
Em Lisboa, o som nasal pronuncia-se "ãe" a rimar com mãe.
Obrigado.
Resposta:
Entre falantes do norte de Portugal, a terminação gráfica -em pode corresponder aos ditongos [ɐ̃j̃]1 ou [ẽj̃]. No contexto da dialetologia da primeira metade do século XX, há registos de esse ditongo ter um apêndice consonântico nasal velar – [ŋ]2 – que, na ligação de palavras, faz com que as sequências apresentadas soem como «queiŋ é», «beiŋ alto», «tambeiŋ aparecem». Note também que a nasal pode também ocorrer a travar o ditongo representado por <-am> e <ão>, ou melhor, "õu", cuja transcrição fonética é [õw̃], realização que se mantém entre alguns falantes nortenhos: «o meu coraçõuŋ é teu». O mesmo pode ou poderia ainda acontecer com <ã>: «manhãŋ azul».
Considerando a descrição do consulente, é possível que certas realizações do ditongo [ɐ̃j̃] ou [ẽj̃] incluam <nh>, isto é, se efetuem com consoante nasal palatal – o segmento representado por <nh> em ninho, cujo símbolo fonético é [ɲ]: «queinh é», «beinh alto», «tambeinh aparecem».3 Note-se, porém, que, para elaboração desta resposta, não se achou bibliografia que registe esta realização.
1 No português de Lisboa e no português-padrão, as sequências gráficas -em e -ãe correspondem ao mesmo ditongo nasal: homem = [ˈɔm′ɐ̃j̃]; mãe = [mɐ̃j̃]. Esta neutralização do contraste entre os ditongos