Pergunta:
A Gramática do Português da Fundação Calouste Gulbenkian distingue as orações passivas em verbais, resultativas e estativas, entre outras.
No entanto, os exemplos dados por ela pareceram-me muito acomodatícios deixando de fora muitos outros, ficando eu sem saber julgá-los, pois os critérios apontados na gramática não se coadunam com as caraterísticas deles.
Na página 441, no penúltimo parágrafo, a gramática chega a afirmar a impossibilidade de haver agente da passiva nas orações passivas resultativas
e na página 444 no segundo parágrafo afirma que a passiva estativa não tem componente agentiva.
Por [tais critérios] me parecerem entrar em contradição com a gramática, cheguei até a duvidar da gramaticalidade das frases abaixo (2 e 3), no entanto, qualquer nativo português ou brasileiro a quem perguntei me assegurou da correção delas.
1) A cidade foi infestada pelos ratos.
2) A cidade ficou infestada pelos ratos.
3) A cidade está infestada pelos ratos.
A mim parece-me que "os ratos" [...] são de fato agentes da infestação e podem ser considerados agentes da passiva, ou não?
O que me parece é que depende dos verbos, como poderemos ver nos seguintes exemplos:
- A procuração já foi assinada pelo presidente.
- A procuração já está assinada pelo presidente.
- Finalmente a procuração ficou assinada pelo presidente.
Resposta:
Podemos considerar três tipos de passivas, de acordo com o que se defende na Gramática do Português: as passivas verbais, as passivas resultativas e as passivas estativas.
Antes de mais, é importante considerar as frases passivas verbais típicas, as quais se constroem com verbos transitivos que pedem um complemento direto e têm como argumento externo o sujeito. É o caso da frase ativa apresentada em (1), que se converte na frase passiva em (1a):
(1) «o João comeu um pão.»
(1a) «Um pão foi comido pelo João.»
É desta natureza a frase 1) apresentada pelo consulente, que aqui transcrevemos na forma ativa (2) e passiva (2a):
(2) «Os ratos infestaram a cidade.»
(2a) «A cidade foi infestada pelos ratos.»
Tal como se refere na Gramática do Português, «as orações passivas verbais descrevem tipicamente situações dinâmicas, i.e., em que uma das entidades envolvidas sofre alguma mudança. Por outras palavras, estas orações descrevem tipicamente eventos e não estados»1.
Por essa razão, em geral, os verbos estativos não são compatíveis com a forma passiva. Excetuam-se deste grupo os verbos estativos epistémicos (3) e psicológicos (4), ou seja, os verbos relativos ao conhecimento e os verbos que expressam sentimentos2:
(3) «O João já conhecia esta livro.»
(3a) «Este livro já era conhecido pelo João.»
(4) «O João amava a Rita.»
(4a) «A Rita era amada pelo João.»
Na Gramática do Português apresenta-se um segundo tipo específico de passiva: a passiva resultativa. Este é um caso muito particula...