A frase apresentada poderá ser interpretada como apresentando dois atos ilocutórios, que poderão ter várias leituras: estes poderão corresponder a:
(i) dois atos assertivos («Foi o dia triunfal da minha vida» e «Nunca poderei ter outro assim»);
(ii) um ato expressivo («Foi o dia triunfal da minha vida») e um ato assertivo («Nunca poderei ter outro assim»);
(iii) dois atos expressivos.
Os atos expressivos assentam sempre na descrição de uma situação que o locutor avalia, expressando o seu estado de espírito, tendo como objetivo a expressão de emoções, sentimentos, avaliações, juízos de valor ou desejos. Entre os atos ilocutórios expressivos, há quem considere a expressão da opinião1, no sentido de o ato ilocutório ser também avaliativo. A leitura feita estará associada à interpretação da intenção do locutor: pretende expressar a crença na verdade do que diz ou pretende expressar o seu estado de espírito?
Com o ato ilocutório assertivo, o locutor expressa a crença na verdade do conteúdo proposicional do enunciado produzido.
Atendendo a que este momento da carta de Fernando Pessoa assume um tom algo exultante, poderemos sustentar que no enunciado estão presentes dois atos expressivos. Não obstante, é possível argumentar em contrário, se virmos na passagem um tom mais informativo.
Relativamente aos diferentes tipos de frase, a frase exclamativa é compatível com a interpretação de que a intenção dominante é a de expressar o estado de espírito por meio de um ato ilocutório expressivo.
Disponha sempre!
1. Cf. Palrilha, Silvério, Contributos para a análise dos atos ilocutórios expressivos em português. Dissertação de mestrado, 2009.
Cf. Banda desenhada francesa recria últimos dias de vida de Fernando Pessoa