Carla Marques - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carla Marques
Carla Marques
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Doutorada em Língua Portuguesa (com uma dissertação na área do  estudo do texto argumentativo oral); investigadora do CELGA-ILTEC (grupo de trabalho "Discurso Académico e Práticas Discursivas"); autora de manuais escolares e de gramáticas escolares; formadora de professores; professora do ensino básico e secundário. Consultora permanente do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacada para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Recentemente ouvi algumas pessoas usando a expressão «por óbvio» em vez de obviamente.

Nunca a escutei antes e não a encontrei nos dicionários em que procurei. Gostaria de saber se ela é uma expressão válida.

Grato desde já!

Resposta:

A expressão não é incorreta, mas, no atual momento, parece ter ainda um uso restrito, com registos apenas na variante de português do Brasil.

A expressão «por óbvio» pode ser usada em situações como a que se apresenta em (1):

(1) «Ela tomou aquele desenlace por óbvio.»

Neste caso, afirma-se que o desenlace não trouxe surpresas, i.e., era o esperado.

O advérbio obviamente usa-se como equivalente de claramente (2) ou para responder afirmativamente a uma questão (3):

(2) «Obviamente, ele estava envergonhado.»

(3) « Queres vir connosco?

         Obviamente!»

Pode usar-se igualmente a construção «como é óbvio» como equivalente de obviamente:

(2a) «Como é óbvio, ele estava envergonhado.»

Não identificámos registos de uso da locução «por óbvio» em português europeu. No entanto, por meio de uma pesquisa na internet, encontrámos registos em português do Brasil, ainda que não muito frequentes. Identificámos casos de seu uso em contexto jurídico:

(4) «O magistrado requerente encontra-se lotado na mesma comarca, […]; não foi até aqui promovido à entrância especial porque não requereu e, por óbvio, não há promoção automática.» (in www.cnj.jus.br/InfojurisI2)

Também identificámos este uso em artigos de especialidade:

(5) «Aquelas que foram abandonadas foram espanc...

Pergunta:

Estou perante um documento oficial que em certa altura tem a seguinte frase:

«Acrescentar eventual informação sobre vetustez e/ou patologias das Escolas (...)»

Pelo que sei a palavra patologia é empregue em linguagem médica, e nunca a ouvi em outro contexto que não esse. Estará correta a frase referida?

Obrigada.

Resposta:

A frase está correta.

O termo patologia é, de facto, um termo da medicina que designa um «Desvio em relação ao que é considerado normal do ponto de vista fisiológico e anatómico e que constitui ou caracteriza uma doença» (Dicionário em linha Priberam).

Não obstante, a palavra patologia pode ser usada com um sentido figurado com o valor de «desvio em relação ao que é considerado normal» (idem). É neste sentido que patologia se aplica a diferentes realidades, como se pode verificar por uma pesquisa simples na internet:

(1) «patologias das madeiras»

(2) «patologias das construções»

(3) «patologias da construção civil»

De igual modo, poderá falar-se de «patologia do edifício escolar», como parece ser o caso no excerto de frase apresentado.

 

Disponha sempre!

Pergunta:

Preciso de ajuda com a construção «muito pouco».

É anómala a estrutura adverbial «muito pouco» para marcar o superlativo absoluto analítico de pouco, ou este apenas possuí a forma sintética pouquíssimo?

Exemplos:

1. Ele tinha muito pouco tempo.

2. Ele tinha pouquíssimo tempo.

Obrigado!

Resposta:

A palavra pouco expressa um valor de quantificação. Ao acompanhar um nome, integra a classe dos quantificadores existenciais (1), ao incidir sobre um adjetivo (2) ou sobre um verbo (3) pertence à classe dos advérbios:

(1) «Ele tinha pouco tempo.»

(2) «Ele é pouco interessado.»

(3) «Ele trabalha pouco.»

Refira-se que nas frases apresentadas pelo consulente, pouco não é um advérbio, mas um quantificador (ou noutra perspetiva gramatical, um determinante indefinido), uma vez que incide sobre um nome.

Nas frases (1) e (3), pouco é graduável, podendo surgir tanto com a forma de superlativo sintético (pouquíssimo) como de superlativo analítico («muito pouco»):

(1a) «Ele tinha muito pouco / pouquíssimo tempo.»

(3a) «Ele trabalha muito pouco / pouquíssimo.»

Quando pouco incide sobre um adjetivo, a opção pelo superlativo sintético parece ser menos aceitável, sendo preferível a opção pelo superlativo analítico:

(2) «Ele é muito pouco interessado.»

Disponha sempre!

Apesar do <i>vs.</i> Apesar de o
Casos de contração da preposição com o artigo

A identificação da frase correta no par «Apesar de o dia estar lindo, não sairia de casa.» ou «Apesar do dia estar lindo, não sairia de casa.» constitui a matéria do apontamento da professora Carla Marques (programa Páginas de Português, na Antena 2, em 16 de abril de 2023). 

O léxico da denúncia
Significados e cambiantes semânticas de âmbito sexual ou moral

As palavras e termos usados no contexto da denúncia de situações indesejadas no âmbito das relações humanas, num momento em que em Portugal as acusações de assédio sobem de tom, dá o mote para o apontamento da professora Carla Marques.